domingo, 28 de fevereiro de 2010

there's a moment. there's always a moment.

Tudo que esperei veio por outros lados, direto de outros olhares. Tentando desviar, tentando manter meus pés em sua casa, acabei assistindo seus dedos enrolarem outros fios de cabelo que não os meus. Assim, minhas lágrimas ajudaram a descolar meus pés do seu chão e seu silêncio foi substituído por outras palavras.
Surpresas são sempre benvindas e agora a saudade é por minha conta. Não conheço seu caminhar e nunca vou conhecer, a qualquer momento ele pode desviar do mim, já que você não segura na minha mão. Não gostar de caminhar sozinho e querer caminhar comigo são duas coisas totalmente diferentes. Olhe para frente, o que você vê ?
Tanta incerteza acabou com o que havia antes. Não há nada trincado, quebrado ou rachado, certas coisas mesmo que continuem intactas deixam de combinar com nossa estante. Nem mesmo os sinas que me atingem todos os dias são capazes de trazer a beleza que existiu de volta, são apenas sinais que finalmente faço questão de fingir que não vejo.
Há muito mais poesia na minha caixa de correio do que em toda essa história. Sinto falta da fantasia, do que nunca existiu. Minha saudade não tem direção, são fantasmas do que desejei e pintei em você.
Agora é o momento.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

Clarice Lispector



Alguma coisa já consigo ler. Isso é um bom sinal .
Um beijo feliz para que anda triste .

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

more than songs can say.

Procurei decorar todos os detalhes, dos quatro cantos. As lembraças ficaram embaçadas como se eu estivesse no fundo de uma piscina, lágrimas que não pingavam, ficaram contidas enquanto eu olhava bem para onde não queria estar nunca mais. O colorido que fica bem organizado por uma das paredes, tudo que não sei nomear, algumas das minhas coisas espalhadas. Além das imagens decorei o som, o cheiro, sua presença e as ausências que lhe perseguem.
Existe um tempo certo. Por isso me levantei, coloquei meu sapato e arrisquei levar seu casaco para o frio que poderia estar fazendo. Quem não sente falta de nada, não iria sentir do casaco. Quase no silêncio total uma gota desceu pelo canto do nariz e tudo aquilo que não controlo me fez sentar na ponta da cadeira, perto da porta. Quase voltei, quase fiz qualquer barulho para chamar atenção. Lembrei do tempo, lembrei que não é tão difícil assim.

Agora tudo parece calmo. Vazio e tranquilo. Deixei tudo que eu tinha pelo caminho. Agora vou parar com tudo, não vou mais buscar essas fotos que mostram o quanto nos perdemos, o quanto não somos mais nada. Ainda tenho as dores do dia que abandonei a minha mesma. Sinceramente prefiro as dores de abandonar você. Não porque eu quero. Só não há mais lágrimas, nem força. A última escorreu pelo rosto, não fiz barulho. Prefiro te deixar sonhando.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Vou tentar explicar. Eu não inventei nada, já veio tudo pronto. Os olhos, as marcas, a cor, altura, as mãos, o sorriso (forçado ou não). Se eu tivesse inventado até ia ficar parecido e sem defeito de fábrica. Ou melhor, qualquer qualidade que pra mim é defeito. Enfim, essa é a primeira parte. Aquela que já veio pronta.