segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pinto todos os dias as unhas de uma cor diferente, o que não adianta nada, sempre borro na hora de pagar o trocador ou quando resolvo fumar antes mesmo de pegar o ônibus. Nos últimos meses ganhei alguns quilos e isso me impede de usar as roupas que quero ou de me sentir confortável na calça jeans, mas tudo bem, já aceitei que minha relação com alimentação é estruturada de uma maneira bastante esquisita, compulsiva. Coloco bastante café na caneca, que mancha a mesa sempre no mesmo lugar. Começo a pensar tudo que tenho que fazer, penso no dinheiro que preciso pra pagar contas e não tenho, penso que amar o trabalho não vai pagar as contas e pagar as contas não vai me fazer amar o trabalho.
Uma música começa a tocar na casa do lado, lá mora um casal. Eu tenho certeza que a cena foi a seguinte, ele levantou, olhou para ela com olhos de uma criança que teme perder aquele travesseiro com cheirinho, e ligou o som. Voltou e deitou com ela, abraçando. Ela fez um barulho que aprendeu com ele, para demonstrar prazer. Nesse momento o casal já deixou de ser o da casa do lado, bebo o final do café, espero que o doce do fundo da caneca me traga de volta para realidade. Até quando vou sair da minha casa sem ao menos levantar da cadeira na hora do café?Como biscoitos, claro. Se não o jeans estaria perfeito.
Meus pés me levam até o banheiro, talvez incomodados com a sujeira que não limpei de suas solas antes de dormir. Minha cabeça coça, e tem cheiro de travesseiro. Tenho notado que meus hábitos de higiene estão precários, e isso foi gradativo. Tem a ver com não acreditar no corpo, não controlar o sono e não ter resolvido bem minha fase oral. Ui, odeio pessoas que citam psicanálise, mais um motivo para eu não gostar de mim.
A lista de coisas para fazer está aumento, o prazo de entrega do projeto terminando, o apartamento fechando as portas, as roupas diminuindo, meu português sumindo, as dores oscilando, a saudade de sentir saudade, as máscaras caindo.

É, hoje foi um péssimo dia.