sábado, 30 de abril de 2011

Poucas "ls"

Rachaduras do ser
Amores incompatíveis
Maneiras de encontrar
Ornamentos que decoram nossa música
Navios que vão por terra, ou por rios.

Aprendendo novas palavras.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Ludicidades, neologismos, solidão e unidade

Outro dia estava lembrando umas brincadeiras que fazia quando era pequena, brincava de ser mãe, de cozinhar, brincava de sereia e de professora. Nunca quis ser rainha de nada, e sempre me virei muito bem sozinha. Mãe solteira, chef cozinha independente, sereia que ultrapassa uma "passagem" para o mundo humano que eu mesma fazia batendo com força as pernas na água, professora de cadeira vazias. Para os outros eu gostava de me exibir dançando. O curioso é que não sei cozinhar, não vou para o fundo do mar e me recuso a inventar um jeito de proibir um filho seja lá do que for. E a dança? Haha, isso nem comento. Só que me lembrei dessas brincadeiras não pára descobrir se ainda sou o que era quando criança lembrei por lembrar como eu era feliz sozinha, como eu não tinha medo de me perder no meu mundo, na minha cabeça, nas minhas idéias, na imaginação. Hoje tenho pavor.

(Também temo da sensação dolorosa de não acreditar em ninguém, de não conhecer ninguém, não entender ninguém. Isso é ser sozinho; pensar que os outros são meras continuações de mim? Isso é solidão, pensando assim existo sozinha. Só não quero me perder no assunto. Deixe-me continuar.)

Nas minhas brincadeiras nunca fui rainha, nem nunca quis ser. Nunca me vestia para o príncipe encantado, nem pensava nisso. Esperei crescer para me candidatar, esperei crescer para não chegar nem no primeiro degrau, nunca me aproximei do trono. Depois de grande a gente resolve brincar de sofrer, e sofre como se tudo fosse tão real. Sentimos dores que nos grudam na vida, que fazem com que nossas brincadeiras infantis pareçam sonhos, mentiras, um monte debobagens. Bobagem é viver e achar que isso que é o real. Bobagem é esquecer-se do teatro e fingir que somos e não que encenamos. Sem ensaio, sem roteiro, tal como minhas brincadeiras de criança.

Deixo aqui uma saudade de algo que nunca se separa de mim, eu mesma. A menina criança não morreu, nem ficou pra trás, nem mudou juntos com minhas formas. A criança não fica em algum lugar do passado, nem nas fotos, nem nas lembranças. Eu sou a mesma que dava aulas para cadeiras vazias, a mesma que sabia ser a melhor mãe do mundo? Sou e não consigo aceitar, insisto e perder-me por aí, em amadurecer qualquer coisa que não se amadurece. Sexo, dinheiro, profissão, e a morte no final, sempre no final.

Amanhã quando acordar vou brincar de alguma coisa, dessa vez sem pensar que pensam que minto em ser essa que sou.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

O circo

Sim, ela pode voar. E eu também. Aprendemos cedinho, nos conhecemos cedo também. Nosso vôo dura poucos segundos, no entanto é tempo eterno, suficiente. Desde pequenos andando por esse mundão, eu nasci para palhaço e ela para voar, eu segui meus passos naturais e os dela também. Seguia seus passos morrendo de medo, apavorado... mas era tão bom ficar junto, quando caímos naquela rede enorme eu podia sentir o peso de tudo que vivia dentro daquela lona. Lona que faz com estejamos sempre em casa, mesmo que cada mês em uma cidade diferente. Cidade grande, cidade quente, cidade pequena, cidade que tem nome por acaso, cidade fantasma, cidade linda. Sim, eu poderia viver em uma cidade só, mas para que? Eu tenho uma casa e vivo em todas as cidades que eu quiser. Se um dia eu cansar, eu morro.
Preciso voltar a ela, minha sutileza, minha passarinha, minha fantasia de palhaço. Ora pinto algumas lágrimas, ora pinto o sorriso. Sempre tenho o mesmo nome, parece até que o nome que minha mãe me deu é apelido e o de palhaço é meu. Um palhaço trapezista, que tenta falar da sua mulher e não pára de falar de si. Ela é minha mulher por condição, sei que se pudesse me abandonar sem abandonar o circo, o faria. Ai, como eu amo essa picadeiro. Todo mundo pensa que é o lugar da alegria, mas digo, nem sempre é assim. Eu preciso chorar pra dentro, chorar sorrindo. Palhaço não chora?
Voa para mim minha pequena dos cabelos negros. Não solta da mão dos outros trapezistas, mas não se apaixone. Morro de ciúmes, perco o tempo da piada. Um dia vou voar melhor do dou cambalhotas. Um dia eu seguro seu voo diante do respeitável público, um dia .

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Casamento

Lourenço - Calma.

Noiva - Eu vou te matar.

Lourenço - Calma!

Noiva - Os convites já estão na gráfica. Você tem outra né?
Mesmo que você não me ame, a gente vai se casar. A gente vai.
Aceito tudo, tudo. Eu te amo, querido. Eu te amo.

Lourenço - Eu não tenho nada pra te oferecer. Você também não
tem nada pra me oferecer.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Engasgo de certeza



Os engasgos não estão nas palavras.
Sempre me pergunto como ter certeza das coisas que sinto, e no fundo é melhor acreditar, sentiu tá sentido. Na mentira aguardo pela surpresa, e na verdade pela decepção. Assim funciona, movimento das certezas.
Para acreditar no amor não basta uma sentença, não basta o eu te amo. Acredito no que está em outro lugar, impossível de indentificar, de apontar, apenas reconheço. Talvez tenhamos por costume dizer amo isso ou aquilo nele, amo o jeito que faz isso, amo o jeito que olha isso. No entanto a impossibilidade de apontar uma única causa para o amor reforça minha idéia do lugar sem nome, não se ama por isso ou por aquilo. Ama-se por não saber o dizer o porquê.
Não acredito na saudade declarada, acredito no tom da voz, acredito no silêncio de quem apenas não sabe dizer como sente minha falta, é quando as palavras se confundem, é um engasgo de certeza e não de dúvida. Não achar as palavras para descrever a saudade é mais sincero do que simplesmente declarar que sente.

O olhar com desejo, o toque de quem quer tornar-se um único corpo junto ao meu, a surpresa do beijo roubado, o cheiro que vem dos pulmões, admirar o outro enquanto dorme, a saudade da boa.

domingo, 3 de abril de 2011

A carona

No banco do carona eu espero e sinto muito calor. Não sei por mais quanto tempo vou ocupar aquele lugar, você dirige e não me importo. Finjo que não vejo você chegar, não movimento nenhum músculo do corpo, nem mesmo por sentir o suor queimando meus olhos. Você senta, liga. O carinho que nos é anterior a qualquer coisa, logo se faz presente em nossos braços que se cruzam, coxa e nuca. Tenho a certeza de que irei buscar esse cruzamento em próximos encontros de minha vida, no entanto quando outros dedos encontrarem minha coxa não sei serei capaz de levantar a mão e tocar outra nuca . Nossos entrelaces, por mais fortes que ainda sejam não tem mais lugar em nossas vidas.
O carro está andando, minha mão perde a força e não te segura mais. Meus olhos perdem o foco, me sinto submersa. Logo acima de nós uma ponte, um elevado, alguma coisa assim, parece que todos os carros resolveram ir por lá e deixaram esse casal falido na parte de baixo.
- Meu amor, minha casa é para o outro lado.
- Sua casa? Casa dos seus pais.
- Agora eu vivo lá.
- Não deveria.
Você ensaia uma briga e eu não quero escutar. Sua mão direita já voltou para a direção desde que chegamos perto da ponte. Não sei se por raiva, por nojo. Talvez não sinta mais que sou sua. Eu sou, sempre vou ser, só não aguento mais as dores que sinto após nossas brigas. Enquanto brigamos me sinto viva, sinto que te amo e que você me ama de volta. Parece que exatamente por isso, por não suportarmos sentir intensamente o indefinível, gritamos, quase nos agredimos. O que dói é a morte que sinto depois, me falta um ar que não sai dos pulmões, poderia morrer e ter um corpo vivo. Será que você me entende?
Saio do seu carro, meu chaveiro com outras chaves. Te abraço, você fica imóvel. Aceito aquilo como amor e vou embora. Lembro-me da primeira vez que precisamos nos separar e você disse : "não olhe pra trás". Não obedeci, claro! Assim que o vidro tornou-se transparente somente para mim, fixei meus olhos no cenário que você ocupava, virei para trás e mantive meu pescoço travado até que a curva do ônibus me roubasse de você por 6 meses. Lembro e decido que agora não poderá mais durar seis meses, tem que durar para sempre. Não olho para trás, dessa vez o vidro é transparente para você.


" Sometimes it lasts in love, but sometimes it hurts instead "