segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Falta

Enquanto congelo acompanho o cor dos meus dedos mudar. Meus pensamentos tentam reescrever a minha história como se fosse possível reunir pedaços perdidos. Percebo o que me angustia, e talvez tenha angustiado a vida toda. Não sei onde começa, não separado o que me contaram do que realmente sei de mim. Ouço minha voz como um eco, quem fala de mim são os outros. E agora, completamente sozinha nessa imensidão de neve não há ninguém para me lembrar, para dizer se está tudo bem ou se na realidade vou morrer. Canso de tentar juntar o que não tem encaixe, apenas se sobrepõe em um movimento infinito, sem começo e sem fim. Minha história não cabe em uma linha. A voz que chamo de pensamento começa a me confundir e preciso falar alto para não enlouquecer, preciso ouvir quem eu sou. Não funciona; eco. Fixo os olhos na cor dos meus dedos, imagino que meu nariz vá ficar da mesma forma, acho que não o sinto mais. Me pergunto: se for queimando das pontas para o centro e assim matando partes de mim, o que existirá no meio do processo? Queria poder durar até o momento no qual todo meu corpo escurecesse, até que sobrasse o último ml de sangue e fibra de carne. Queria assim poder saber o que some enquanto morre o corpo, até quando seria eu. Onde está minha alma?

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ciranda

Havia algo da morte que foi deixado lado, lembrando por acaso, ou não tão acaso assim, da inscrição que ele faria e não fez. Perdeu a data, como alguém que diz o que não disse. Na verdade ele não queria. E o que queria? Não dizia? Queria o que sempre negava.
Entrando na história. É quando toca a música na qual dançam os mentirosos: em pares movimentos regrados não permitem observar onde começa, onde aumenta e onde termina a mentira na qual vivemos. Forma-se uma ciranda e o movimento é único, uma grande massa coordenada, dançando. Dupla-se dançando. Movimento dos mentirosos. Inventa-se o mundo mais próximo do suportável ou desiste-se dele. Ninguém fica de fora.