sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

se assim como eu
você tem medo do amor
escape do silêncio compartilhado
fuja do não querer ir embora
evite rir demais junto
calma com as coisas em comum
faça tudo
mas não deixa de tentar
escapar
fugir
acalmar demais a vida
pode ser perigoso


é que amar errado
ou amar certo
sempre causa cíumes
causa saudade
causa pouca liberdade

então
nada de sentir-se bem
escolha logo outra pessoa
que satisfaça qualquer meia coisa
que trepe qualquer meia vida
que tope mais te amar
do que ser amado

seja feliz
não deixe o silêncio te trazer novidades.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O que se gasta em vinho
Mais ainda o que se gasta em poema
Não se gasta em vida
No jogo de tanto quero
Tudo que tanto faz
O que fica pra depois
É que agora se defaz

Amanhã começa igual
Transformando corpo em papel
Dobradura interminavél
Corpo maleável

Que me queima
Treina
Até depois


Um dia esse poema não vale mais nada.
Se ela soubesse o que fazer
Com meu descaso
Meus cachos
Passado de amor

Se ela soubesse me venderia
Num despacho
Qualquer caso
História de amor

Se ela tivesse uma vida passada
Caberia num copo
Repleto de lágrimas
Me daria adeus

Se ela se
Se eu quem sabe
Se nós dois amanhã
Se não fosse natal
Se poesia fosse beijo
Se letra fosse história
Saudade seria solução


...
Uma vez eu pensei
Que ele sentia saudades de mim
Hoje eu sei
Que ele sente
Sorriso carente
Mentira que eu prezo

Se você pudesse
Iria comigo
Para Tiradentes
Florianópolis
Ou qualquer lugar sem sentido

São tantas as outras
São poucas e boas
Que você usa para me disfarçar
Para mim
Para você
Para o mundo

Etâ corações gigantes
Que se encontraram
Se encantaram
Se compuseram
E desfizarem

Vida que não deixar enganar
Sorriso que não deixo passar
Saudade que mata
Única e simples rua
Que nos une
E nos separa

Ah! Sorriso maroto
Que finge ser muitos outros
Que não me engana
E me quer
Se quer
Me quer
Se quer
Te quer
Que vai

Foi...

Foi...

Foi...



O mais dificil
É que se não vou bem pra mim
Não vou bem pra ninguém
Imagina só pra você
Tão cheio de tempo
Tão cheio de regras
Grudado no relógio

O problema é que
Se não fomos desde sempre
Se não consumimos o perder
Do primeiro encontro
Ainda temos muito pra gastar
E como fazer isso
Se nosso tempo passou?

Cabe a nós
Deixar passar
Deixar correr
Contar que venha
A mentira de outra
A vontade de outra
A verdade de mais tarde

Segura seu coração
Daí
Que eu seguro o meu
Daqui
Contorna nossa mentira
Refaz nossa história
Eu
Cansei de tudo isso...
Tão bela
Vai me contornando
Desenhando
Saudando
Mas por favor
Espera o carnaval passar

Tão charmosa
Vai ajeitando o cabelo
Dançando
Riscando o chão
Mas por favor
No próximo carnaval
Me deixa rodar

Cheia de sorriso
Brilho pra todos os lados
Recrebrando
Me fazendo tremer
Mas eu resisto
É que sabe como é
Ainda falta o carnaval chegar

Sem medo de mim
Sem tempo pra mim
Tão bela
Tão sincera
Tão
Tão tão

E agora que chegou
Preciso dizer que
Não vejo a hora
Do carnaval terminar

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Volto muitas vezes
Ao mesmo lugar
Com diferentes pessoas
Janela amarela
Tempo que corre devagar

Sorriso de paz
Sono profundo
Não ouso mudar de posição
Um lento amanhecer
Deixo tudo para depois

Mais um segundo se foi
Não quero perder nenhum suspiro seu
Não deixo escapar nenhuma elevação do seu peito
A manhã se vai
Não ouso me mover

Chega hora do almoço
Seus olhos abrem em camera lenta
Janela bate forte com o vento
Você se assuta
Nos olhamos
Eu sei que devo ir


terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O convite quase certo
De algum momento completo
Nos falta saber perder
Aquilo que só vemos depois
Nos falta saber crer
Que o estar já valeu

Os nós quase sempre incertos
Quase sempre cegos
Os nós dos quais nos esquivamos
Bravamente
Enfrentamos bravamente
O mar, os nós e o depois.

Desamarrar e gritar
Desnudar o impossível do amor
Desfiando fio por fio
Dando um nó
Desfazendo outro
Gritamos por liberdade
E por amor

Enquanto a liberdade e o amor vão e vem
Se alternando ou se unindo
Uma dança bonita que aparece
Faz com que os momentos guardem
O melhor do desejo
Faz com que os momentos salvem
Toda nossa força
Nossa força ao mar

Para quem viu e para quem viveu
As coisas boas do momento
Porque os nós vêm de outras maneiras
Os nós vêm de outros marinheiros.


O meu corpo apronta
E pulsa tão forte
Que quase se escuta
Do outro lado do mundo

O meu corpo se apronta
Ajeita o quadril
Aconchega no peito
Pique- esconde de boca

O meu corpo aponta
Pra mais dura decisão
Do ponto cego
Que é o futuro

O meu corpo te aponta
Contando da mais dura sensação
Do mais cruel dos momentos
Em que não havia nada a fazer


14/dezembro/2013
Espio suas mãos para ter certeza
De que assim como todas as outras
Passarão

Espio seu sorriso
Penso no que desejo
E logo desfaço

Acompanho sua mão
Ela desliza e procura a minha
Eu escapo

Não será diferente porque é com a gente
Não será menos quente
Nem menos transformador
Vai durar o tempo da liberdade

Espio sua cintura
Deslizo minha canela na sua

Espio quando você espia
Deslizo pro lado
Adoeço

Adolesço
Acontece que a tua pele
Acontece que mais ainda o teu beijo
Acontece que aconteceu
Acontece que eu transformo tudo
Só para lembrar

Transformo tudo para não ter que lembrar
De beijos silenciosos
Do toque tímido da mãos
Da voz no ouvido
E da certeza que nos encerrava
Enquanto ainda éramos

Assim eu deixo que fique
Na conta do medo
Nas linhas do impossível
No castanho dos seus olhos
Eu deixo que acabe
Na notícia do ciúme que sinto

Do amor que você dá pro mundo
O que poderia
Se
De repente
O que
Se não fosse
Agora
Toda vez que
Nunca
Se houvesse
Quando
Se pudesse
Sempre
Se não fosse
Antes
Se não existisse
.
.
.
Sempre

Saudade
Avante
Vontade
Tratante
Momento
Transeunte


Um nunca
Que sempre
Abre
Fecha
Deixa
Sem nem ao menos
Ter sido


17 de dezembro 2013

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Queridos amigos
Eu não luto mais
Chega dessa guerra inútil
Há muito mais pelo que lutar

Queridos amigos de longa data
Vocês não são mais bonitos
Ou sequer interessantes
Ninguém brinca de gangorra sozinho

Queridos
Vocês não são tão legais
Me satisfaz saber disso sozinha
Há muito mais pelo que lutar

Queridos
Vocês sempre estiveram sozinhos
Não quero a opnião ou gratidão de vocês
Ninguém brinca de gangorra sozinho

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Caso você queira um caso, eu caso.
Vai ter que ter acaso, descaso, pigarro.
Caso você queira um passo, eu passo.
Não quero plano decente, concreto, futuro.
Caso você queira um traço, te traço.
Vai ter marca no corpo, vai ter peito serrado.
Caso você queira um bolo, eu bolo.
Vai ter cozinha quente, criança na sala, livro na estante.
Caso você queira demais, vai ter de tudo.
Caso com você 
Sem caso
Sem véu 
Sem regra
Sem conta no banco
Eu caso com você pra casar com o mundo.
Não demora eu apareço.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Depois dos vinte anos 
É fundamental descobrir 
Que quantos menos homens em uma festa te
desejarem 
Melhor para você

Depois dos vinte anos 
É fundamental ter certeza
Que quanto menos regras houver 
na sua cabeça 
Melhor para o seu corpo

Depois dos vinte anos
Não se pode esquecer 
Que mesmo depois dos vinte
Muitas mulheres ainda não sabem 
nada parecido com isso

Depois dos vinte anos 
Não se descobre coisas 
do nada 
Elas já vem com a gente
dia após dia 
Até que um outro dia 
parecem claras e fortes

Amar sapato não é coisa de mulher
Ser submissa não é coisa de mulher 
Comprar não é coisa de mulher
Decote e maquiagem não são coisa de mulher
Não há nem mesmo quem saiba me dizer
o que é ser mulher.

Sabe o que assusta ao afirmar isso? 
Não sabemos nada de nós mesmxs.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Atenção, meus amigos
Olha aí
Não sou a outra ponta da força de vocês
Soltei a corda
Não sem ferir minhas mãos

É que achei melhor
É que só posso ser se
É que so posso viver sem
É que não desejo nada ruim

Soltei a corda
Mas não sem torcer para que vocês ficassem bem
Adeus para vocês
Que não largam o osso
Eu solto
Eu vou

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Dez casos de amor que separados não existem




1.
Embriagado ou não

Fique quieto, rapaz


E repita esse beijo eternamente

2.
Fosse você metade do rei que pensa ser

Eu ainda te amaria.


3.
Pouco importa todo o resto.
Hoje eu representaria com você 

a mais bela noite de amor.


4.
Se meus dedos pudessem tocar aqueles cachos

Um fogaréu transformaria meu corpo .


5.
Desculpe o mau jeito

É que meu peito encostou no seu
e eu senti uma coisa estranha.


6.
Forcei o olhar para não te ver

E até desviei meu querer 
Não funcionou


7.
Ele era Branco

De cor e de nome
Estacionamos o carro
e eu entendi tudo.



8.
Todo jeito que eu podia dar 
eu dava

Só para tocar minha pele na sua.

9.
Quando você dividia seu sono comigo
Nossos segredos se cruzavam inúmeras vezes até fazer unidade
Assim que acordávamos 
tudo acabava.

10.


Um beijo seria pouco.

Impossibilitados da eternidade 

Nos separamos
um beijo seria pouco
impossibilitados da eternidade nos separamos
quando você dividia seu sono comigo
nossos segredos se cruzavam inúmeras vezes até fazer unidade

assim que acordávamos 
tudo acabava.
todo jeito que eu podia dar 
eu dava

só para tocar minha pele na sua.
ele era branco
de cor e de nome
estacionamos o carro
e eu entendi tudo.
forcei o olhar para não te ver
desviei meu querer para não te ter
mas não funcionou
desculpe o mau jeito
é que meu peito enconstou no seu
e eu senti uma coisa estranha.
Se meus dedos pudessem tocar aqueles cachos
Um fogaréu transformaria meu corpo .

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Minha filha tem apenas 8 anos e me fez uma pergunta. Eu não soube responder. Agora penso em algumas coisas.

Como amar os meninos?

Tem que amar o jeito de sentar.
O jeito de cruzar as pernas.
O sorriso curto
e o beijo no canto da boca.
A maneira como eles coçam a barba.
Aqueles que pegam no violão.
O olhar intenso.
O carinho roubado.
Tem que amar a força com que ele te deseja
e mais ainda a força com que você deseja ele.
Tem que amar o quanto ele te respeita
e mais ainda o quanto vocês são livres juntos.
Tem que amar o jeito de dar bom dia
O sorriso maroto da manhã
dado ao recerber beijinhos nas costas.
O não caber em si do menino que quer ser pai.
Tem que amar o poder ir
Tem que amar o poder ficar
Tem que amar o poder voltar

Minha filha, tem um monte de coisa pra amar nos meninos.
Mas ainda assim, se você preferir, a mamãe pode pensar como amar as meninas e te deixar ainda mais feliz.

Fosse você metade do rei que pensa ser
Eu ainda te amaria.
embriagado ou não
fique quieto, rapaz.
e repita esse beijo eternamente.
o dia foi forte.
você parecia forte.
seu olhar atravessava minhas palavras.
suas perguntas esquentavam a sala.

o abraço foi forte.
você parecia tão atravessado quanto eu.
talvez atravessado por mim
e por mais tantas outras.
pouco importa.
 representaria com você
a mais bela noite de amor.

o não foi forte.
nós somos fortes.
 o tempo vai se encarregar de abrir as cortinas
e de apagar a luz.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

"o amor veio e me levou com ele"

Encantamento sem fim. Olhos que piscavam apenas para não ressecarem e acabarem por partir. Quebrar eu até poderia permitir. Partir não. Partir doía tanto que não se dizia nem mesmo adeus ao telefone. Sinto que foi e que é o princípio mais bonito que pude ter. O amor para mim não é mais um evento, um relacionamento, um momento, ele, ela ou eu. O amor é esse avalanche de chances que eu tento agarrar na vida. O amor é o que faço com cada poeirinha que consigo reter por alguns segundos nas minhas mãos. É a poeirinha que faz cócega no canto do lábio ou que arranha a retina e faz chorar. Avanlanche que te assola e depois te ensina a nadar. Nadar no seco, na neve, no mar. Areia, neve, ou água. Se chegar assolando, cega e confude a gente. E o pior que andar confuso no escuro é uma delícia. Ter caminhado assim faz parte da aventura. E se retomo tudo isso não sofro mais. Agora sim eu amo mais. 
Fica pronto toda vez que releio
Monto um novo arranjo
Sinto o vai e vem dentro do peito
A flor murcha e sem cor não me incomoda

A falta de ar é também a falta de rumo
Na impossibilidade de dizer
tento respirar mais do que o padrão
Não há padrão
Não há encontro

Reescrevo e cada vez acerto um novo tom
Toco e troco de alma
Troco e toco de corpo
Reorganizo meu sistema respiratório
Penetro pelas curvas intemináveis do meu relógio
que não cessa de titaquear

Que alívio em te ver
Que alívio em escrever
Que alívio em perder
Que alívio em pensar na roupa
e ela caber.

Pego mais um gota de ar
Falta mais uma
Releio tudo que escrevi
Calar me dói e me conforta
Não saber não me assuta mais
Me move.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Eclipse Oculto

Meus peitos ganharam
uma beleza cheia de liberdade
Vivíamos uma década de 80
que queria nos levar 
Da janela podíamos ver tudo
a cidade fervia e esperava por nós

Nossas festas
Nossa ressaca
Nosso tempo
Nosso teatro
E nosso amor não deu certo

Muitas brigas que queriam paz
Uma guerra de dois dançarinos
A saudade só vem depois
A verdade é feita de fibras
A verdade é espiral

Nosso encontro
Nossos corpos
Nossos porres
Nossa paciência com o mundo
O que será?

domingo, 18 de agosto de 2013

O poeta passarinho


Algo existe em Minas Gerais. 
Está gravado nas paredes, 
impregnado no vão do chão de pedras, 
pairando no ar. 
Em Minas, 
algo diferente aparece no canto dos animais.

Neste segundo
há um passarinho que canta
em meus ouvidos. 
Está tão pertinho. 
Ai se Drummond ainda andasse de ônibus por aí. 
Ai se a família se recriasse no amor. 
Ai se a religião fosse abandonada como fardo.

Meus dedos escorregam pelo teclado. 
Meus olhos correm pelo papel. 
Meu ouvido escuta uma voz bonita, 
de homem bonito, 
de homem querido, 
recitando um pouco do livro. 
Meus olhos descansam 
e meus pés encontram 
um pouquinho de calor. 

Caminho pronta. 
Volto sem saber. 
Caminho completa. 
Volto sem saber. 
Caminho com outros. 
Volto sem ninguém.

A poesia nunca será banal.
Meu amor nunca se encerra. 
Não há mais tempo para tentar dizer. 
Há tempo para ir até Minas, 
há tempo para penetrar surdamente no reino das palavras. 

Rio de Janeiro que não vivi. 
Minas Gerais que conserva no vento 
um passado que me atrai. 
Drummond que eu não sabia ler.
Minhas rimas pobres.
Meu coração incompleto.
Óculos são roubados.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

mulher

o que aconteceu com você, minha pequena?
escuto desafinado e vejo sua foto
minha querida, que nunca foi minha
tão bela que jamais seria de ninguém.
Remédios a bela.

você mente
sua pele reflete.
você beija
sua boca conserta o tempo.
atração e amor
tão diferente e tão juntos.

o mar reflete nosso passado
você me encanta
escuto uma música bem baixinha
é seu violão ainda novo
é você aprendendo a cantar.

o que aconteceu com você, minha pequena?
corpo lindo
sapato lindo
te amo mesmo sem nunca ter tido nada
nem fio
nem tempo
nem sorriso
nem desprezo

pelo menos sempre que me encontra
me aperta
pelo menos sempre que me aperta
me aperta
o peito.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

3

Tem gente querendo furar o muro.
Gente fazendo curva no caminho.
Talvez não durma mais.
E precise voltar pra casa.
Sem motivo me desminto.
E sem pensar me encolho.

Encolho meu peito para abri-lo.
Arrasto um pé depois do outro.
Sinto ciúmes para ver se esqueço do amor.
Viro de lado, recuo e toco em você.

Invento um outro que não quero.
Aceito o abandono e todas as minhas histórias
Assim, quem sabe, eu vá embora antes
Eu erre antes
E como sempre
deixe de de amar para continuar amando.

De repente alguém me embola
E de repente alguém me enrola
Talvez eu queira muito ir
E talvez seja impossível
Sem motivo te olho seguidas vezes
E sem motivo algum sei exatamente o que queria te dizer.

A vontade de falar vem da incapacidade de poder dizer.
Não sei o que se passa.
Não sou capaz de repetir certeza alguma.
 Tremo, abaixo o tom, sinto uma bagunça.
Desespero sem motivo,
problemas inventados,
caminhos impossíveis.
Não me importo mais
e sei o que dizer.
No entanto, não digo.

sábado, 3 de agosto de 2013

sobre a tristeza de hoje
sobre os amores possíveis
sobre os amores que se sobrepõem
sobre não saber sobrepor
sobre.
sobre sobrepor

cabe mais joana nos teus dias
do que joão nos meus
cabe falar de amor
e escutar a lagoa movimentar

os dias se alternam
entre esperança e mentira
os dias se desfazem
dias  e mais os dias
os dias me desmostam
com dificuldade
me remonto

me aperta o peito
me provoca sono
me provoca
me oca
faz alarde

já vou por não caber ficar
já vou por não caber aqui
já vou por ter que ir
já sinto tudo voltar

vomito.
me calo.
me enrolo.
me vou,
meu amor.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Saudade espera voltar

E se o amor resolveu dar uma trégua
Não fujo
E sendo você um grande mistério
Espero
E tendo eu e você um só corpo
Entrego-me

Caminho por estradas vazias
Insistindo em desviar 
Escolho saídas nas quais você 
não deveria estar
De repente, te encontro

E quando meu corpo treme 
É quando meu corpo duvida
E quando me faltam as palavras
É quando me sobram certezas
E quando sinto medo
É quando quero ficar

Caminho pelo caminho contrário
Encontro muitas dificuldades
Uma nova a cada curva
Penso ter parado de vez
Pois há muitas pontes sem início

E eu te amo
Te amo
Te amo
E amo mais
E te amo mais um pouco

Tenho filhos com você
Tenho livros com você 
Tenho tempo com você
Calma tempo com você
Volta tudo com você

Sendo assim suporto esperar
Reorganizo o tempo
Deixo tudo se mover
Tempero-me até você voltar
E vamos ver acontecer

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Mais um.

Reorganiza os perdidos, faz com que se percam os organizados, arrepia a pele quando promove a unidade da voz. Esclarece nossos velhos hábitos até que gastos mostrem por si só a necessidade de produzirmos novos lugares para tudo que está posto. Esquenta o coração dos pouco apaixonados, coloca o corpo das mulheres para ferver e as mãos disciplinadas pelo trabalho para levantar suas bandeiras. Arrepia a pele, esquenta os pés, ferve o coração e expõem os sonhos. 

Caminho aberto que junta mais um, mais um, mais um, mais um, mais um. Abre os livros e faz com que as páginas esquecidas se aqueçam. Sacode a poeira dos tambores e das bibliotecas. Esquenta a cama dos amantes, repensa os casamentos, reorganiza as casas e as famílias. Muda a posição vertical, impossibilita a posição fetal. Caminho aberto que muda um, escuta um, agrega um, faz pensar um, impressiona um, ama um, abriga um, contém um, explode um, mais um, mais um, mais um, mais um, multidão. Tem-se assim um movimento que sem saber para onde vai ou crendo saber para onde vai, vai. É como o tal amor que levanta a saia das mulheres e as considerações acerca da palavra homem. Promove encontros, arrebenta o coração dos jovens, faz sair de casa mais um. Faz pensar mais um. Faz querer mais, mais um. Fazer entender que pode mais, mais um. E se falta amor, na próxima semana tem mais um pouco.

Quando a vida deixa de ser uma aquisição. Quando a cor do sofá e tamanho do tapete estão em segundo plano. Quando o sexo esquenta nossos corpos como um todo. Quando o amor se reinventa no ato de amar. Quando as páginas dos livros viram sem parar. Quando a poesia entra pela veia e consome o coração dos mais apaixonados. Quando a poesia vem e assalta o coração dos menos apaixonados. Quando nossas casas podem ter portas abertas. Quando a carne salta pela calça e ninguém aponta o dedo. Quando não há uma cidade dividida. Quando as praças são nossas para luta e para cultura. Quando o cheiro da feijoada invade meu coração. 

As conversas explodem nos bares. Nas esquinas há novos encontros. O temor das escutas aumenta o volume do tesão pelo agir. As festas abafam as novas técnicas. A cama dos casais, a cama dos três, a cama dos quatro e todas as camas ardem de tesão e de novas maneiras de pensar. Os apartamentos agitam os instrumentos. Livros que vão e vem. Aumentam o diálogo e fazem a risada se impor diante daqueles que descobriram como funciona a sociedade. Discos antigos tocam. Há espaço. Há tempo. Há movimento. 

E se não parece novidade: que bom.
E se parece novidade: que bom. 

terça-feira, 25 de junho de 2013

Bosta

Foi nessa de esperar a bosta cantar que a bosta secou. Eu ficava por ali rondando os rapazes até que viessem falar comigo, até que me amassem profundamente e nesse meio tempo a bosta foi secando. Talvez tenha sido paciência, mas agora prefiro dizer que foi burrice. Eu ficava por ali ciscando, aguardando meu quinhão e a bosta foi ficando dura. Achar que bosta canta é achar que homem ama. Achar que bosta seca fica mais fácil de limpar é achar que homem que ama vai embora com um simples adeus. Foi nessa de esperar que enrolei as pernas, tropecei meus passos, quis dizer quem era e fiz inimigos. Eu ficava ali disputando namorado com alguma amiga desavisada como eu. O tempo fechou, o livro abriu e o poema chegou. Não é mais preciso implorar, nem desejar ser desejo. Desejo agora é troca. Potência agora explode. Tesão agora assume mas não determina. Bosta seca que vou ter que limpar. Bosta que vai feder enquanto eu limpo. Bosta que eu caguei. Bosta que eu deixei. Bosta que vai deixar um leve cheiro no ar para eu nunca mais esquecer que ele existiu, e ao mesmo tempo ter certeza que ela não está mais ali. É o cheiro de uma merda que já passou.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

E o amor?

Fácil seria se a culpa fosse dos outros. Tranquilo e ameno seria o destino se as escolhas não fossem minhas. Passa um, dois, três, mil. Passam todos os amores. Que doce era acreditar no destino e não questionar a paz que parece óbvia. O que mais pode fazer uma pessoa tão completa quanto pode o que o amor? Quase como um espírito que se apossa de um corpo adormecido, excitando e depois fazendo dormir. 
Tem o primeiro, o segundo e o terceiro. Depois tem os que sabem tudo, os de apenas uma noite, os para sempre. Ai ai ai que fácil seria se houvesse o tal espírito. Que trágico seria ser um corpo adormecido. Que belas são aquelas que chegam à galope e se acomodam no lugar que ainda estava quente da outra anterior. Que tristes são aquelas que ficam no mesmo lugar até que entre em combustão. O fogo se espalha e destrói tudo que acreditam ser possível construir amando. Que lindo o passado cheio de borboletas animadas. Que real o presente. Que delícia de futuro. Paz só. Nada de espírito amor. Nada de saudade amor. Nada de briga amor. Posse amor. Troca amor. Destroca amor. Mentiras amor. Expectativas amor. Fim da linha amor. Beleza amor. Traição amor. Coragem para seguir amor. Fidelidade amor. Unidade amor. Carinho amor. Sacanagem amor. Contrato amor. Regra amor. Saudade amor. Suor amor. Mudanças amor. Vírgulas antes do amor.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Como destruir um coração - Parte I

O que me faz esperar? Esperar resposta. Esperar que repita. Esperar para sair. Esperar para entrar. Esperar para pegar. Esperar o retorno. Espero para não perder e perco enquanto espero. Espero que ele venha. Espero que ela vá. Esperar é desejar parado. Espero que você. Espero que eu. Espero seu retorno. Algo como o aguardo, só que pior. Sem guardar nada, sem acaso, sem sobra pro passado. Espero que ele me toque. Espero que ele se toque. Espero que ele seja quem não é. Isso sim é esperar. Esperar pelo que não vai acontecer mesmo sem saber se vai ou não. Espero ao contrário. Espero de cabeça para baixo. Espero comer mais. Espero dormir menos. Espero para ser. Sou na espera. Espero demais. Enquanto espero meu desejo congela meus pés no chão. Congelados eles me fazem sentir. Sentir dor. Com os pés apodrecidos eu caio. E desta queda não sobrou amor, nem quase amor, nem passado, nem futuro. Não sobrou o menino bonito da época da escola, nem o rebelde da faculdade, nem meu marido mediano para quem eu levaria café com veneno em menos de seis meses. Não sobrou nada e eu fiquei ali. Caída sem meus pés, que se encontravam podres ao meu lado. Fiquei ali escutando a voz das pessoas que repete sempre as mesmas bobagens ecoando no meu ouvido. Lembrei daquela menina amarga que perdeu sua irmã sem nunca ter tido. Lembrei do menino apaixonado pela vida que perdeu a chance de viver um grande amor. Lembrei da morte do amigo querido que lotou grandes cemitérios ao redor do mundo. Lembrei da moto roubada e do tiro que levei no peito. Meu coração foi inchando. Meu coração apertou tanto na caixa que me faltou ar. Meu coração cansou de precisar esperar. O desejo congelou meus pés e me derrubou. Desejo de saber onde mora dentro de mim tanto amor assim que me faz óbvia demais, clichê demais. Não acredito mais no amor. Na vontade de viver um grande amor, talvez nisso eu ainda acredite. Foi por isso que destruí meu coração (seja lá onde ele mora) com as minhas próprias mãos. Não espero mais porque não tenho mais o que esperar. Escolho perder por dizer adeus, mais um vez. Pode ir agora, eu não vou com você. Esconde sua mão quente pois ela não me interessa mais.


terça-feira, 21 de maio de 2013

Incrível como se não houvesse amanhã

Ele não finge que entra, nem finge que sai. Ele não finge que lê, nem finge que sabe. Ele não finge que quer, nem finge querer demais. Ele que caminha diferente e fica lindo sem roupas. Ele que ainda é um menino. Ele que não finge que entra, nem entra demais. Ele que não finge lê, nem fala demais. Ele que caminha lentamente e fica mais lindo de perto. Ele que riscou compriiiiiiiido no meu peito. Ele que finge que ama e por isso ama demais. Ele que diz que ama por amar demais. Ele que caminha correndo e não deixa nenhum segundo da vida passar. Ele que ainda é um menino e fez minha vida mudar. Ele que não espera o tempo passar. Ele que é incrível como se não houvesse amanhã.
Se não tenho tempo de fazer diferente. Se não sei o que do tempo ocupa seu tempo. Se só tenho o que ele sabe me dar. Se ele troca meu nome e me faz acreditar. Se ele merece minha letras. Se ele tem no  peito o avesso do que prefere mostrar. Se cabe gente demais naquele peito aberto. Se cabe gente que não deveria caber. Se cabe, se sabe, se cava, se trava, se monta, se me encontra. Nada disso importa, pois gostar dele não é pensar nele. Gostar dele é pensar no encontro. Nos encontros. No amor. Nas possibilidades de amar. Sendo assim é possível dar adeus a todos os clichês da princesa moderna que não espera que ele ligue, mas espera que ele responda suas mensagens. Assim o amor é muito maior. O amor faz crescer, o amor faz pensar, o amor faz caber um monte de gente no meu peito.
Foi assim que descobri que o amor não limita, não coloca anel no dedo.
O amor liberta.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

você

Soltamos os ponteiros do relógio e deixamos o tempo passar. Você me deu um arrepio danado quando me pediu para ficar ao seu lado. Você me deu vazio no estômago e vontade de vomitar. Você desenha do pulso ao peito e do peito ao pulso. Você cabe no enlace das nossas pernas. Você me fez acordar com vontade de sair. Você me fez correr e querer voltar. Você que tem o tempo trocado e as pernas bambas. Você que mente pra mim e me faz acreditar. Você que é mais que bem vindo, vem logo, pode entrar.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Ponto cego

Sinto que estou morrendo e não peço que venham me ver. Apago o cigarro na língua e não peço que venham me ver. Corto as pontas dos dedos e não peço que venham me ver. De amor assim já transbordei faz uma cara. Não encontro a saída e ainda assim prefiro ficar vagando. Meu silêncio e meu não serão sonoros e não serão ao mesmo tempo. Não farei joguetes e nem inventarei um falso desejo, o meu silêncio é sempre mais forte do que qualquer decisão. Nego para afirmar depois e silêncio por não ter nada além do vazio. Nem sim, nem não. Nem começo, nem fim. Nulo, inexistente, invisível, não é que não sinta. Não é que negue para depois dizer sim. Apenas não digo, não represento. E aquilo que calo em mim é dor não compartilhada. É amor despedaçado provocador de inércia. 

Onde não digo. Onde não vejo. Onde posso colidir.Onde caio e não volto igual.
Silêncio que só pode vir depois de esgotar minhas palavras.

Sangue seco no buraco do silêncio.

Em câmera lenta a faca gira e aponta para o chão, meu pé fica no meio do caminho e sangra por isso. Furo de ponta de faca. Alguém tenta ajudar e quebra uma caneca de café cheia de água. A caneca quebra no meio e mais alguns caquinhos. Meu pé dói, sangra e lateja. Talvez porque você não esteja tudo lateja. Quem tenta ajudar se desespera e para mim tudo derrete. Enquanto tudo parece derreter.  Caminho e deixo rastro de sangue para pegar qualquer coisa e fingir que melhora mais rápido se limpar o ferimento. Sujo o chão e o buraco arde insistentemente. Penso nas possibilidades de amanhã e no que pode acontecer enquanto espero mais uma semana. Estamos em 2013 e apesar de estar cansada de saber que os remédios não fazem mais as feridas arderem eu temo antes de passar aquela aguinha que borbulha com sangue, depois a pazinha transparente. Tudo bem. Finalmente parece doer pouco. Mesmo sem dormir não tenho sono e um orquidário me  espera, mesmo sem fumar ainda pigarro e cuspo qualquer coisa verde verde verde. Não parou de sangrar e me faz pensar em como eu seria menos desprezível se me esforçasse para isso. Pensar nisso me faz rir com muita satisfação pois juro que vai ser diferente da próxima vez. O telefone chama e não era para mim. O buraco parou de sangrar, mas o sangue seco que está envolta fez um desenho engraçado perto do mindinho. O barulho me incomoda, a saudade dói, a dúvida é uma praga. O amor tem estranhos contornos, entornos, retornos. Deixo sangrar e secar pois não arde e não dói. Está aqui, bem furado, esfregando no meus olhos que o amor não tem magia, não tem mentira, tem contato e saudade.

ps1: odeio pessoas que fazem barulho para chamar atenção para seu mal humor. gente que bate porta, lava louça e não segura as panelas, gente que resmunga baixinho, gente que bate com as coisas na mesa e pisa forte no chão.

ps2: no silêncio também há vida.

ps3: ninguém fala por falar, mas as vezes falam demais.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Olhos perdidos/ Peito vazio.

Para mim e para você: cama de casal.
Para nós dois: risadas sem fim.
Refúgio no calor. Risadas de doer a barriga. Carregamento de besteiras. Todos os ouvidos. Novidade. Graça do acontecimento. Final infeliz.
Para mim: saudade.
Para você: mudança.
Para nós: um nó.
Curiosidade. Tagarelice. Encontro. Para quem?
Para nós: 3 dias de nada. Cama de casal. Biscoito. Cama de casal. Fotos.
Você não sabe fitar e por isso vou embora.

Dois tempos

Desordem era minha palavra de ordem. Eu não cabia dentro do meu próprio peito quando via a rapaziada chegar. Eu suava frio e palpitava quando chegava a hora de brincar. Estudar, voltar, brincar e ver a noite chegar. Eu tremia por dentro quando sentia meus pés no cimento, meus dedos ensopados de lama e meu peito molhado de suor e poeira. Chorava como criança que era quando o castigo era severo. Trocava o pé de chinelo, pé direto no chinelo esquerdo e pé esquerdo no chinelo direito. Morria de rir. Chorava com a dor de perder a cabeça do dedão. Comia com as mãos e seguia o mestre. Como era bom ver a molecada correr, que bom era sentir o frio na barriga que dá na hora do lanche. Fechava os olhos e desejava fundo bolo de milho e café com leite para todos os amigos. Às vezes sim, outras não. Como eram bons os sintomas de ser feliz.

Corríamos de um lado para outro e acreditávamos nas histórias de meu pai. Perdi meu pai logo cedo e dei um bom lugar pro vazio em meu peito. Era o lugar do meu pai. Perdi muito amor com esse vazio. Não faz muito tempo preenchi com o pai que me tornei. Meus moleques correm para todos os lados. Que tarefa mais esquisita essa de ser pai. Deixo comer isso, proíbo aquilo. Deixo correr ali, proíbo aqui. Qual a escola? Devem fazer inglês? Que tarefa ingrata. Que delícia é viver minha molecagem de outro ângulo. Moçada, todo mundo pra rua! Moçada, olha o livro que papai comprou: é Manoel de Barros. Dá um beijo aqui no papai. Como são bons os sintomas da dúvida. 

Suar frio, palpitar, tremer, escorrer, correr, ir, voltar, rezar, seguir, implorar, sonhar, criar, desejar, trocar, preencher o vazio com meu pai. Preencher meu vazio sendo pai. Ser criança e deixar de ser como uma tarefa contínua de quem assume o papel de ser adulto, mas não quer morrer de tédio. 

terça-feira, 9 de abril de 2013

Pequeno relato de uma grande vivência

Eles corriam faceiros sem se dar conta da diferença na cor de nossas peles. Subiam em árvores, caçavam caranguejos e faziam desenhos com lápis de cor. Pés no chão de barro, mergulho no mangue sujo, ritual religioso e cachimbo na boca. O que me disseram é que lá eles não mentem. Guarani até os cinco anos. Verdade no peito para sempre. Carinhosos não reconheciam em nós inimigos. Que talvez sejamos, ou tenhamos sido. O que do meu sangue é mais europeu do que índio?
Como são lindas as crianças de lá. O recorte em suas roupas industrializadas dando ar de indiozinho. A cor marrom brilhosa de suas peles. Os cabelo que escorre e pesa. O carinho gratuito. Não somos inimigos. Não tenho 24 anos, tenho mais de 500. E ainda assim não somos inimigos.
Crianças com cachimbo. Mães de quatorze anos. Crianças com pés no chão. Ritual noturno. Ausência de luz. Pegamos o barco, atravessamos pro outro lado. Comemos peixe, dormimos no hotel, brigamos, amamos, matamos as saudades, conhecemos gente nova e seguimos a vida. Não sei se somos mais índios ou mais europeus. Não sei se dá pra escolher. Não sei se quero escolher. Se devo escolher. Há um lugar onde não há motivo para mentir, ou aquilo que é mentira não se qualifica como tal.
Não povo não civilizado. Há povos diferentes.


domingo, 7 de abril de 2013

seguindo o seguir

seguro o verso, engulo a rima, sinto saudades, prendo o choro, disfarço a farsa, perco o chão, entorto o certo, desvio a vida, acabo com rumo, ignoro a felicidade, encaro passado, admiro o mundo, arrumo um amante, odeio tudo, caminho lentamente, invento a novidade, ignoro o amor, reconheço o erro, assumo as responsabilidades, coço os dedos.
morro de saudades, penso no futuro, admiro os casais, reconheço a felicidade, aprecio a unidade, escorro por entre a nova fase.
temo o fim, apresento o novo, sonho com dias melhores.
sinto saudades, alongo o tempo.
espero paciente.

domingo, 31 de março de 2013

Do lado escuro da vida

Do outro lado do mundo as coisas pegam fogo, explodem e se destroem em ódio e dor. Do meu lado as flores temem não nascer nunca mais e o fato da terra estar seca me paralisa. Descobrir que a água com a qual reguei as plantas fica guardada nas veias da folhas não me acalma a alma. Não posso ver o liquido correr como sangue e acredito que minhas plantas estejam sempre morrendo. Lidar com ódio parece mais fácil do que com amor. Lidar com o tempo. Lidar com aquilo que faz reboliço no peito. Dar razão para o que se sente pode salvar um coração, nunca dois. Adeus enjoada. A gente resolve um amor aqui, assiste outro nascer ali, perde o fio que conduz nossa própria vida. Se eu pudesse virar o mundo faria pegar fogo por aqui. Troco o amor que desconheço pelo ódio indomável. 
Saber se entregar para qualquer um é mais fácil do que se entregar para apenas um. Ser livre também não é fácil. Caminhar pelos caminhos tortos da certeza de antes, acertar os ponteiros da minha própria vida. O tempo vai passando. As coisas mudam. E mudam mesmo. O amor finalmente acaba e você sente a dor do desencanto. O amor finalmente volta e você sente a dor do desencanto. O amor que nunca teve chance de nascer deixa um gosto amargo de ser realmente amor. Nunca aconteceu e foi amor. Ser livre é mais difícil do que ser só. 
Será preciso então virar o mundo de cabeça para baixo. Será preciso aceitar o que não lhe pertence. Será preciso caminhar com sapato apertado. Os dedos vão sangrar, vão doer e talvez os passos sejam mais lentos. Será preciso aceitar os dedos machucados. Será preciso esperar que o novo sapato não substitua,apenas encaixe como se o outro nunca tivesse existido. Vai ser difícil deixar passar, mas não há outra saída. Adeus enjoada. O tempo é uma desculpa boa. Depois que o coração se acalma dizemos que foi o tempo e até esquecemos o que passou. Vai ser difícil. Já está difícil. O amor não pede licença para entrar, pra sair ou pra voltar. Já foi. Já está difícil.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Vento

Será que toda vez que ele se posiciona na frente da janela e pensa na vida, consegue fazer os pensamentos irem embora com o vento? Mesmo sem essa certeza é ir para janela o que faz sempre que tudo pesa demais para ser pensado na cama. A profissão que escolheu, o amor da sua vida ter aparecido justamente na sua vida, o cigarro que não larga e não quer largar, a barriguinha fora dos padrões, as certezas depositadas no futuro incerto. Ele sente o peito apertar e a dor sair no cantarolar de uma música com letra forte. Os pensamentos na janela atravessam as verdades pessoais e embarcam em suas escolhas políticas, suas decisões de todo dia, sua ética estudada e revista, e aquela coisa que ele não sabe como surgiu, quem escolheu ou quem moldou. Eles apenas é assim. Ele sofre com as dores e doenças que se espalham pelo mundo, ele sofre com do movimentos perversos do capital, ele sofre com a obrigação de se calar toda vez que se sente impotente ou em dúvida. Sempre que vai pra janela sabe que a situação tá preta. Nele e no mundo. O que pra ele é uma coisa só. Não sabe mais o que fazer, sai da janela e vai para o quarto. Dorme e acorda por obrigação. Viveria na janela se não sentisse um impulso transformador em vários momentos. Venta na janela, venta no trabalho, venta na viagem que não fez, venta nas certezas do amor, venta, venta, venta. venta. Ele não consegue decidir se o vento entorta ou conserta. Se o vento leva ou se o vento traz. Bom seria saber. Bom seria se o vento transformasse. Se o vento soubesse, se janela fechasse, se ele pudesse viver outra vez, outra vez, outra vez.

domingo, 24 de março de 2013

Casa de campo

Talvez o bolo fique seco, mas cheira muito bem. Se for para um, será de laranja. Se for para outro, de brigadeiro. Se for mais além será de coco. Se for para ela será de avelã. Se for para quem nunca será, castanha do pará. As vigas e escadas são de madeira. O cheiro da madeira se confunde com o cheiro do bolo. O gato faz charme. Se for de um, será só um gato. Se for de outro, dois gatos. Se for mais para trás, uns seis gatos. Se for ela, não será gato. Se for quem nunca será, um gato e um cachorro. O sofá pode ser no chão. Pode ser importado. Pode ser vazio. Pode ser quente. Pode ser furado. Pode ser cheio de criança. Pode ser cheio de livros. Pode ser apenas uma poltrona. Só cabendo um. Se for ele, se for ela, se for eu, se formos nós. Os quadros são antigos. Se for de um, de outro ou mais além, será bem colorido. Se for dela, será importado. Pode ser dança, silêncio ou pode não ter mais quadro nenhum. Talvez o bolo queime. Se for um, vai raspar o queimado e comer. Se for outro, vai comer com queimado. Se for quem nunca será, não vai comer. O chão é gelado e as paredes são de pedra. Se for um vai cavar. Se for outro vai deitar. Se for antigo vai partir e voltar, partir e voltar. E para não dizer daquele não nunca seria, se fosse esse colocaria um tapete para encher nossa casa de poeira e esconder as mazelas de uma insistência infundada. Talvez o som não funcione. Talvez toque as melhores músicas do encontro de quem gosta das mesmas coisas. Talvez nunca seja ela, essa já era. Pior do que nunca seria, nunca foi. Talvez tenha mais som do que letras. Ou melhor ainda, tem a serenidade e paz de quem sabe cantar de olhos fechados e ainda assim estar olhando para mim e não para si mesmo. Quase me esqueci desse trovador. Se for o trovador a paz vai reinar por alguns segundos, sua alma é mais magoada do que tenta aparentar. E se não for ninguém, o silêncio vai reinar. O sofá vai esquentar. O quarto habitar muitas histórias de amor. E o passado se tranquilizar como uma história justa de uma menina entregue as possibilidades das mentiras/verdades do amor.

terça-feira, 19 de março de 2013

Espelho duplo

Foi um soco sem medida. Minha imagem se despedaçou. Tentei colar minhas partes com as suas que cortei de um retrato. Não funcionou. Manchou do sangue que escorria dos meus dedos e das lágrimas que escorriam da minha saudade. Dedo quase amputado que apontava uma direção. A lentidão do tempo, a pressa dos anos, tudo isso nos fez tão bem. Longe e perto. O tempo nos esmagou.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Das cinzas coração

Apodrecendo. Primeiro foram meus dedos e não pude mais escrever. Depois meus cabelos se dissolviam como pó. Se não fosse tão triste morrer em vida eu diria que frente ao espelho o cabelo virando pó é um bonito espetáculo. Meus pulmões já eram podres antes mesmo do meu pós morte. Entendam que eu não estava morrendo, morri e comecei a putrefação. Tudo teoricamente em vida. Meus lábios escureceram em velocidade desconhecida pela biologia humana. Me calei para não sentir vergonha todas as vezes que um pedaço podre de mucosa, ou um dente estragado caíssem na frente de algum conhecido da rua. Podia sentir meu coração parado, lutando para dar uma ou duas batidas por dia. Outro fenômeno que acompanhou minha morte viva foi o odor repulsivo. Odor característico daqueles que acompanham o fim dos encontros sinceros. Não existe nenhum fato que comprove o início da morte ou que aponte para as causas exatas do meu desmoronamento. Acreditei que se tratava de um castigo dado em função de minhas ausências. Talvez a poeira acumulada do meu apartamento ou os tiros disparados contra minha família tenham colaborado. Meus passos ficaram lentos por não ter mais carne nos pés, o odor reforçou os encontros falsos, o coração escureceu como um pulmão fumante e ainda assim não havia nenhuma cova para mim. Me mudei para um cemitério e fiz amigos. A ciência desconhece as doenças do amor e pude saber disso diante dos mortos com vida que encontrei tentando caminhar pelos corredores do cemitério. Calados por não termos lábios, nos entendiamos no olhar. Curiosamente nossos olhos permaneceram intactos, nem um pequeno verme ousou consumir o brilho triste que resta para os desiludidos. Ali não houve nenhum suicídio presumido e nem um assassinato. Concluo que tenha sido coisa da vida mesmo, coisa de quem se dedica demais ao impossível do amor. Desiludidos de amores que batem na aorta. Para esses a vida reservou um apodrecer tão lento que chega a se confundir com a eternidade.

domingo, 10 de março de 2013

Tautologia feminina

Não gosto muito dessa coisa de tipo. "Não faz meu tipo" ou "não tenho tipo" , são frases impossíveis e na medida em que se necessariamente se anulam deixam todos nós mergulhados num vazio incrível.  Façamos o seguinte: aceitar o vazio e abraçar um tipo de mulher. Falo daquele tipo que enrosca as almas, não compete com outras e treme diante de um imbecil qualquer. Forte demais para ser homem se torna imediatamente mulher. Cava grandes buracos no jardim para fazer com que as flores que cultiva tenham raízes grandes o suficiente para se fixar e ao mesmo tempo se espalhar para além dos limites da cerca. Suas flores crescem firmes e livres, coloridas e venenosas, perfumam e matam. Tem aqueles que se atrevem a entrar no jardim e aqueles que são flores. Esse tipo de mulher prefere aqueles que são flores, mas não é capaz de impedir a entrada daqueles que simplesmente invadem, roubam, pisam na flores. Ou daqueles que plantam mais flores. Ou daqueles que querem um pouco de tudo e acabam por não fazer nada.
Esse tipo de mulher é ao mesmo tempo, muito mais que jardinagem. Transita pelos cantos da cidade, faz estrago no seu próprio coração e acha que conhaque cura. Volta e meia alguém volta, arrependido, com o rabo enroscado. Ela é do tipo que deixa saudades. Que mente. Que simula. Que atua. Que representa a boa moça. No entanto, nem mesmo que a vida fosse um longa ópera o fim poderia ser evitado: a cortina fecha e  a máscara dela cai . A boa moça derrete. Sobra apenas figurino.
Se você não tem tipo, ou se ela não faz seu tipo, lembre-se: essas frases se anulam e fazem esse tipo de mulher surgir e desaparecer. Surgir e desaparecer. Surgir e desaparecer. Num movimento inquietante para ela e para os outros.

sábado, 9 de março de 2013

Carnaval

Quando se precisa de um tempo que não se pode ter fica pesado carregar meus instrumentos. Tento converter tudo aquilo em boa música, tendo escrever novas letras com idéias do passado, tendo construir uma nova ponte entre as coisas, e mais que tudo tento mudar tudo aquilo que me machuca fundo demais. Caminho errante e me surpreendo com as surpresas mais inesperadas. Erro nos planos e sinto que acertei no inesperado. Vai que chega logo o carnaval e tudo fica um pouco um melhor. Poderia pular o natal facilmente, como se fosse uma data inexistente no calendário falso católico. Falso para mim e para todos outros tantos que circundam meu corpo. Acredito assim que a tinta que cobre meu rosto, as curvas que não combinam com meu espelho e a insegurança que lateja apontem para uma certeza: o que começa falso, nunca pode terminar bem. É preciso se sentir livre para ser feliz, livre das próprias dúvidas e inseguranças. Sendo assim nem preciso de instrumentos, muito menos de boa música. Se não puder caminha sem as amarras da insegurança não servirá para mim. Caminho devagar, desvio dos desvios.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Texto para quem tem medo

Nosso tempo não virá. O muito que corri para frente e você para trás. O muito que esperei e você também. O encontro impossível daquilo que resultaria no excesso. Alguns amores não podem existir, poderiam trazer confusões no tempo dos outros. Por isso mesmo o nosso tempo não virá, não será. Não existe encontro para o impossível. Com muito lamento deixo tudo engavetado e aceito suas palavras atrasadas. E sabe do pior? Antes não podia dizer de meu amor pois temia, agora não posso pois não sinto mais. Isso dói mais do que perder, ou não ter. Nosso tempo não existe, não cabe nos segundos de nenhum relógio, não encaixa nos anos de um namoro. Nunca faríamos bodas de nada. Nosso amor está aí o tempo todo, bem além do nosso tempo, perdido no espaço. Assim ficamos livres para outras coisas quaisquer, para outros beijos além. Evitamos o fim dos tempos e a construção de castelos tardios. Melhor crer que nos separamos por um bem maior, do que ter certeza que foi por uma bobagem qualquer. O pior medo que alguém pode sentir é o de se saber feliz.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Aguardo

Tudo uma grande mentira. Eu não guardo nada. Meu perfume é novo e no meu peito não cabe nem meio você. Tudo uma grande confusão. Eu não guardo nada. Estou de peito aberto e nele não cabe nem meio você. Nem meio ninguém. Só quero gente inteira. Gente que ri do que era para chorar, gente que entende minhas meias palavras e meu caminhar. Quero a brancura da pele da menina e nunca mais ter que implorar.
Na bolsa da vida, a bôlsa e a vida, a bolsa ou a vida. Eu não guardo nada. No aguardo a vida vai passando. Eu não guardo, nem aguardo mais. Ela mudaria minha vida. Deixo que o tempo carregue nossas surpresas. A fantasia dessa vez é tão óbvia que cansa, pesa nos meus olhos. Eu não guardo mais nada. Eu prefiro que as coisas fiquem por aí. Sendo assim deixo meus óculos na casa de minha avó. Deixo meus grampos na casa do meu amor. Deixo meus anéis no bar e meu relógio atrás da cama. Lá o tempo passa lentamente. Quero gente que não guarda nada. Até a geladeira fica vazia. É quando não aguardo que ela vem. É quando não guardo que encontro. É quando não preciso mais que a necessidade se impõe. Aquilo que anotamos para lembrar não serve, o melhor a gente nunca esquece. Pega de surpresa, treme o peito, molha as mãos.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Curativo

Não me conta o que quer ouvir e vai caindo da ponte em câmera lenta. Come pouco e depois come muito. Sendo assim não há corpo que aguente. Arrebenta o estômago e explode os pulsos. Compra muito e depois não compra mais nada. Sendo assim não há tempo que dure. Morrendo de todas aquelas doenças da música, cospe nos pés para abrir a ferida. Arranca todas as casquinhas e depois tenta colocar curativo. Sendo assim não há mais nada.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Das Dores é sobrenome

Minha sorte, pela primeira vez maior que a sua, é que aprendi a respirar. Aprendi na faculdade uma técnica para adestrar gente, e consegui tirar alguma coisa viva de tal aprendizado. Sendo assim respirar faz bem, movimenta minha pernas preguiçosas. Todas as vezes que a avalanche da raiva vem, eu respiro. Melhor ainda é respirar quando a onda do retorno passa. A maior mentira que já inventei é a de querer para desquerer. Essa mentira é apenas o momento de respirar, pois é artificial e ao mesmo tempo ajuda a não parar nunca mais. É movimento. É totalmente passageira. Mentira-respiração que cura da raiva e do amor ao mesmo tempo. Um tapa atrás do outro, no rosto. Respiro e não sinto dor. E ainda cuido para que mais tarde não deixe dores pós porrada. Dorzinha chata que com massagem piora e com remédio disfarça. Cuido agora. Mentira-respiração com bolsa de gelo. Tem gente que parte por não saber ficar e gente que fica por não saber partir. Que Deus perdoe e que Deus inverta só de vingança.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

E se fosse mentira?

músculo perdido dentro de uma caixa apertada. pulsando até não caber mais no espaço. debatendo-se no pouco espaço que lhe foi destinado. impedindo a vida de fluir. o dia se arrasta. é a vontade de existir. músculo pulsando até explodir. cabeça sonhando. músculo esperando a hora de falhar. pouco tempo para decidir. é melhor decidir logo. decidido. é melhor não se ter nada. das tentativas só o fracasso. um tempo para pensar. caminhos pulsantes como o músculo. cabe dentro de mim. tum tum tum. a historia da menina que explodiu por amar demais.

meus pés. aterrorizando os rapazes, facilitando para as meninas. olha que perigo é ser desse jeito todo. ai que perigo é dizer sim! mais ainda tentar. reflete nas consequências de se estar só. coragem demais atrapalha. vamos despencar. você não merece meus apelos. agora se sabe de outro tempo. por mais que o sol invada meu espaço, eu não acordo. deixando a poeira corroer as letras que prefiro ignorar. minha doença não tem cura. hoje o que dói é meu ouvido direito. caminho na direção oposta. não passa a dor nem o tempo.

você disse que viria. ele disse que queria mais. e pior ainda aquele que disse que iríamos conseguir. façam o favor de cortar fora a língua. falar menos é melhor do que falar demais. correr por entre o espaço da caixa apertada. faço minhas curvas para deixar o coração bater. mentira boa é aquela que a gente já sabia que ia descobrir mas preferiu enganar o peito. caminha, volta, fica com a morena mesmo que não queira. pode ser que seja melhor.
músculo perdido dentro de uma caixa apertada. pulsando até não caber mais no espaço. debatendo-se no pouco espaço que lhe foi destinado. impedindo a vida de fluir. o dia se arrasta. é a vontade de existir. músculo pulsando até explodir. cabeça sonhando. músculo esperando a hora de falhar. pouco tempo para decidir. é melhor decidir logo. decidido. é melhor não se ter nada. das tentativas só o fracasso. um tempo para pensar. caminhos pulsantes como o músculo. cabe dentro de mim. tum tum tum. a historia da menina que explodiu por amar demais.

meus pés. aterrorizando os rapazes, facilitando para as meninas. olha que perigo é ser desse jeito todo. ai que perigo é dizer sim! mais ainda tentar. reflete nas consequências de se estar só. coragem demais atrapalha. vamos despencar. você não merece meus apelos. agora se sabe de outro tempo. por mais que o sol invada meu espaço, eu não acordo. deixando a poeira corroer as letras que prefiro ignorar. minha doença não tem cura. hoje o que dói é meu ouvido direito. caminho na direção oposta. não passa a dor nem o tempo.

você disse que viria. ele disse que queria mais. e pior ainda aquele que disse que iríamos conseguir. façam o favor de cortar fora a língua. falar menos é melhor do que falar demais. correr por entre o espaço da caixa apertada. faço minhas curvas para deixar o coração bater. mentira boa é aquela que a gente já sabia que ia descobrir mas preferiu enganar o peito. caminha, volta, fica com a morena mesmo que não queira. pode ser que seja melhor.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Presente

Retomo alguns hábitos. Beijar o gato, acender um cheiro, comer um pouco e usar mascavo. A vela derreteu tão devagar que tive bastante tempo para pensar. Errei tão feio da última vez que agora já sei o que é não amar. Apertei o gatilho, sufoquei o passado e ainda não sei dizer não, mesmo não querendo. É como comer comida fria e sentir muito enjoo. É como vomitar de tanto nervoso. É como ter passado a vida toda organizando tudo, sem realizar. Como três pratos frios até chegar ao quente. Minto e erro duas vezes até conseguir reparar em que momento repito as mentiras e caminho outra vez para o engano. Faço carinho no gato, ouço sua música na cabeça e prefiro outra banda. Hoje vou descer uns vinte goles, vou brindar a minha felicidade e as coisas que vou fazer sem me organizar. Quero poucos e todos. Todos os poucos que falam grego. Quero que meu telefone toque para pensar política meio a palavrões. Quero homens e mulheres. Todos com apartamento. 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A volta

Me convidei para entrar na sua festa. Que maldição esse medo que sentem de mim. Devo ter herdado de alguma parente queimada na fogueira. Os que arriscam, afundam. Bem, sua festa ainda não acabou. Falta você mudar logo de rumo. Pega logo o barco do passado e arrisca um pouco mais. Até eu tenho saudade daquela sua versão que não tive tempo de acompanhar. Abre logo esse zíper. Solta logo o todo tolo. Dá uma risada daquelas que deixam as meninas sem graça. Vou substituir suas palavras sérias pelas  minhas pornográficas e depois fazer propaganda da nossa pele para o espelho grudado na porta do seu armário. Corre do destino de revista. Corre do futuro seguro. Corre para cidade que me indicou. Também adorei. Vou estar por lá quando você mais esperar. Não precisa mais fingir seriedade para me provocar, não precisa mais chegar devagar. Vem chutando a porta. A minha e a sua. Salva nossas vidas e solta a voz. Aumenta seu tom que eu diminuo o meu. Salva nossos passos e nossas letras. Acelera meu peito mais um vez. O seu acelera também. Volta a dar meia volta. Pode me dar uma volta. Pode me dar duas voltas. Daremos nossas voltas. Juntos e separados. Assim sim. De verdade. Assim nunca vamos parar de embaçar o espelho do armário, o vidro do carro e a cortina da banheira. O céu despenca no futuro. O som acelera e finalmente chegamos no ponto que pretendíamos. Aí estamos prontos para recomeçar. Vende logo essa família de revista de bebê. Cancela a viagem sem graça. Abre os olhos, as pernas, sobe o tom de novo. Ainda dá tempo de rever aquele encontro certeiro. Revolta, reajusta, rebola. Um canto para nós dois, já deveria ter encontrado. Eu espero. 

domingo, 13 de janeiro de 2013

Caminho pelo corredor

O barulho da lâmina tocando o osso incomoda mais do que a dor. É que demorou tanto para chegar nos ossos que não dói mais. No entanto, o barulho me desperta e faz lembrar que ainda corta. Ninguém chora uma morte o tempo todo, mas pode ser que chore para sempre. Sentir a morte pressiona o peito, empurra minhas duas metades. Corrói meus dentes, impulsiona minhas mentiras, me faz avançar no que me destrói.Tem muitas palavras que eu não sei pronunciar. 
O barulho da lâmina cortando as frutas. O barulho da lâmina que vem da cozinha. São pedaços para se juntar. E ainda que perfeitamente recolocados irão apodrecer. Não há costura ou perfeição que reconstruía as antigas frutas. Porém não se preocupem. Despedaçadas ou não, apodreceriam do mesmo jeito. É aí que a lâmina pega do osso e não corta mais. Ossos fortes, lâmina gasta. O barulho da festa diminuiu, o meu olhar sossegou. Foi só um fôlego que tomamos na superfície. Nossas vidas são assim mesmo, tentando respirar o tempo todo.
O barulho da lâmina sendo arrastada pelas paredes. Tentando marcar aquilo que pode ser pintado. De cores ainda mais linda. Arranhando, marcando, deixando algumas letras escritas. O próprio tempo se encarregou de desgastar o resto da tinta da parede, deixando tudo uniforme. O tempo dos sonhos é exatamente aquele que precisa acabar, se a gente não acorda passa a ser realidade.Aí é só bobagem e barulho. 
Capto pouco no final. O suficiente para saber que ainda é a mesma coisa. A gaveta que tento abrir tem uma mola que tensiona para fechar. Ninguém sabe o que aquela mola faz ali ou quem colocou ou porque colocou. Pobre gaveta fechada. Pobre gaveta tensionada. Tão linda, de puxadores valiosos. E o pior, está cheia. Quem tensiona para abrir, por vezes consegue colocar alguma coisa lá dentro. O esforço para abrir é tão grande que todo mundo escolhe guardar uma coisa que gosta muito. O tempo tem enferrujado a mola.
Capto tudo. Quebro essa gaveta. Quebro meus dedos tentando deixar ela aberta. É assim que a lâmina corta a primeira camada de pele, tentando aliviar a dor dos dedos quebrados. Deixo na gaveta, pedaços dos dedos amputados pela força da mola. Capto o rapto dos meus dedos. Maldita gaveta cheia de pontas de dedos. A lâmina quebra ao chegar no osso.

sábado, 5 de janeiro de 2013

dancing. dancing.

Pensei diversas vezes em mentir. Seria assim: faria o que me desse vontade, afinal sou rainha desse mundo, e depois eu mentiria, como uma criança de cinco anos que acredita na própria mentira. Que bobagem. Faria isso como última tentativa, já não tão desejada, de entender o que se passa. Mais bobagem. Não há o que entender, brilhantemente me contaram que se algo não está livre para uma coisa, não está livre pra nada. Ou se é livre, ou não se é.
As resoluções se mostram, dançam bem na minha frente. A febre e a coceira podem tentar me cegar e minha mão pode quase rachar de  tanto ressecar. Não importa mais. Para mim os ímpares interessam muito mais. Sem tentar voltar ao que pareceu ideal, sem tentar ter ideal de porra nenhuma. Quero mais é que as mãos ressequem de solidão e que o céu seja todos os dias bem azul. Quero mais é que vocês aprendam a não mentir. E por outros lado que elas não troquem a mentira pelo amor eterno. Fica mais fácil.
As pontas dos seus dedos estão queimadas e não acho mais graça nessa insegurança toda. Patéticas conversas fundamentais foram perdidas nas letras escritas, privadas de olhar. Se dois eram imaturos, agora é apenas um. As pontas de todos os dedos estão queimadas. Outros dedos feridos pela aliança. Queimar seus dedos é pouco. Pouco não serve mais. Nem de um, nem dos outros mil.