quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Texto para quem tem medo

Nosso tempo não virá. O muito que corri para frente e você para trás. O muito que esperei e você também. O encontro impossível daquilo que resultaria no excesso. Alguns amores não podem existir, poderiam trazer confusões no tempo dos outros. Por isso mesmo o nosso tempo não virá, não será. Não existe encontro para o impossível. Com muito lamento deixo tudo engavetado e aceito suas palavras atrasadas. E sabe do pior? Antes não podia dizer de meu amor pois temia, agora não posso pois não sinto mais. Isso dói mais do que perder, ou não ter. Nosso tempo não existe, não cabe nos segundos de nenhum relógio, não encaixa nos anos de um namoro. Nunca faríamos bodas de nada. Nosso amor está aí o tempo todo, bem além do nosso tempo, perdido no espaço. Assim ficamos livres para outras coisas quaisquer, para outros beijos além. Evitamos o fim dos tempos e a construção de castelos tardios. Melhor crer que nos separamos por um bem maior, do que ter certeza que foi por uma bobagem qualquer. O pior medo que alguém pode sentir é o de se saber feliz.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Aguardo

Tudo uma grande mentira. Eu não guardo nada. Meu perfume é novo e no meu peito não cabe nem meio você. Tudo uma grande confusão. Eu não guardo nada. Estou de peito aberto e nele não cabe nem meio você. Nem meio ninguém. Só quero gente inteira. Gente que ri do que era para chorar, gente que entende minhas meias palavras e meu caminhar. Quero a brancura da pele da menina e nunca mais ter que implorar.
Na bolsa da vida, a bôlsa e a vida, a bolsa ou a vida. Eu não guardo nada. No aguardo a vida vai passando. Eu não guardo, nem aguardo mais. Ela mudaria minha vida. Deixo que o tempo carregue nossas surpresas. A fantasia dessa vez é tão óbvia que cansa, pesa nos meus olhos. Eu não guardo mais nada. Eu prefiro que as coisas fiquem por aí. Sendo assim deixo meus óculos na casa de minha avó. Deixo meus grampos na casa do meu amor. Deixo meus anéis no bar e meu relógio atrás da cama. Lá o tempo passa lentamente. Quero gente que não guarda nada. Até a geladeira fica vazia. É quando não aguardo que ela vem. É quando não guardo que encontro. É quando não preciso mais que a necessidade se impõe. Aquilo que anotamos para lembrar não serve, o melhor a gente nunca esquece. Pega de surpresa, treme o peito, molha as mãos.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Curativo

Não me conta o que quer ouvir e vai caindo da ponte em câmera lenta. Come pouco e depois come muito. Sendo assim não há corpo que aguente. Arrebenta o estômago e explode os pulsos. Compra muito e depois não compra mais nada. Sendo assim não há tempo que dure. Morrendo de todas aquelas doenças da música, cospe nos pés para abrir a ferida. Arranca todas as casquinhas e depois tenta colocar curativo. Sendo assim não há mais nada.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Das Dores é sobrenome

Minha sorte, pela primeira vez maior que a sua, é que aprendi a respirar. Aprendi na faculdade uma técnica para adestrar gente, e consegui tirar alguma coisa viva de tal aprendizado. Sendo assim respirar faz bem, movimenta minha pernas preguiçosas. Todas as vezes que a avalanche da raiva vem, eu respiro. Melhor ainda é respirar quando a onda do retorno passa. A maior mentira que já inventei é a de querer para desquerer. Essa mentira é apenas o momento de respirar, pois é artificial e ao mesmo tempo ajuda a não parar nunca mais. É movimento. É totalmente passageira. Mentira-respiração que cura da raiva e do amor ao mesmo tempo. Um tapa atrás do outro, no rosto. Respiro e não sinto dor. E ainda cuido para que mais tarde não deixe dores pós porrada. Dorzinha chata que com massagem piora e com remédio disfarça. Cuido agora. Mentira-respiração com bolsa de gelo. Tem gente que parte por não saber ficar e gente que fica por não saber partir. Que Deus perdoe e que Deus inverta só de vingança.