quinta-feira, 23 de maio de 2013

Como destruir um coração - Parte I

O que me faz esperar? Esperar resposta. Esperar que repita. Esperar para sair. Esperar para entrar. Esperar para pegar. Esperar o retorno. Espero para não perder e perco enquanto espero. Espero que ele venha. Espero que ela vá. Esperar é desejar parado. Espero que você. Espero que eu. Espero seu retorno. Algo como o aguardo, só que pior. Sem guardar nada, sem acaso, sem sobra pro passado. Espero que ele me toque. Espero que ele se toque. Espero que ele seja quem não é. Isso sim é esperar. Esperar pelo que não vai acontecer mesmo sem saber se vai ou não. Espero ao contrário. Espero de cabeça para baixo. Espero comer mais. Espero dormir menos. Espero para ser. Sou na espera. Espero demais. Enquanto espero meu desejo congela meus pés no chão. Congelados eles me fazem sentir. Sentir dor. Com os pés apodrecidos eu caio. E desta queda não sobrou amor, nem quase amor, nem passado, nem futuro. Não sobrou o menino bonito da época da escola, nem o rebelde da faculdade, nem meu marido mediano para quem eu levaria café com veneno em menos de seis meses. Não sobrou nada e eu fiquei ali. Caída sem meus pés, que se encontravam podres ao meu lado. Fiquei ali escutando a voz das pessoas que repete sempre as mesmas bobagens ecoando no meu ouvido. Lembrei daquela menina amarga que perdeu sua irmã sem nunca ter tido. Lembrei do menino apaixonado pela vida que perdeu a chance de viver um grande amor. Lembrei da morte do amigo querido que lotou grandes cemitérios ao redor do mundo. Lembrei da moto roubada e do tiro que levei no peito. Meu coração foi inchando. Meu coração apertou tanto na caixa que me faltou ar. Meu coração cansou de precisar esperar. O desejo congelou meus pés e me derrubou. Desejo de saber onde mora dentro de mim tanto amor assim que me faz óbvia demais, clichê demais. Não acredito mais no amor. Na vontade de viver um grande amor, talvez nisso eu ainda acredite. Foi por isso que destruí meu coração (seja lá onde ele mora) com as minhas próprias mãos. Não espero mais porque não tenho mais o que esperar. Escolho perder por dizer adeus, mais um vez. Pode ir agora, eu não vou com você. Esconde sua mão quente pois ela não me interessa mais.


terça-feira, 21 de maio de 2013

Incrível como se não houvesse amanhã

Ele não finge que entra, nem finge que sai. Ele não finge que lê, nem finge que sabe. Ele não finge que quer, nem finge querer demais. Ele que caminha diferente e fica lindo sem roupas. Ele que ainda é um menino. Ele que não finge que entra, nem entra demais. Ele que não finge lê, nem fala demais. Ele que caminha lentamente e fica mais lindo de perto. Ele que riscou compriiiiiiiido no meu peito. Ele que finge que ama e por isso ama demais. Ele que diz que ama por amar demais. Ele que caminha correndo e não deixa nenhum segundo da vida passar. Ele que ainda é um menino e fez minha vida mudar. Ele que não espera o tempo passar. Ele que é incrível como se não houvesse amanhã.
Se não tenho tempo de fazer diferente. Se não sei o que do tempo ocupa seu tempo. Se só tenho o que ele sabe me dar. Se ele troca meu nome e me faz acreditar. Se ele merece minha letras. Se ele tem no  peito o avesso do que prefere mostrar. Se cabe gente demais naquele peito aberto. Se cabe gente que não deveria caber. Se cabe, se sabe, se cava, se trava, se monta, se me encontra. Nada disso importa, pois gostar dele não é pensar nele. Gostar dele é pensar no encontro. Nos encontros. No amor. Nas possibilidades de amar. Sendo assim é possível dar adeus a todos os clichês da princesa moderna que não espera que ele ligue, mas espera que ele responda suas mensagens. Assim o amor é muito maior. O amor faz crescer, o amor faz pensar, o amor faz caber um monte de gente no meu peito.
Foi assim que descobri que o amor não limita, não coloca anel no dedo.
O amor liberta.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

você

Soltamos os ponteiros do relógio e deixamos o tempo passar. Você me deu um arrepio danado quando me pediu para ficar ao seu lado. Você me deu vazio no estômago e vontade de vomitar. Você desenha do pulso ao peito e do peito ao pulso. Você cabe no enlace das nossas pernas. Você me fez acordar com vontade de sair. Você me fez correr e querer voltar. Você que tem o tempo trocado e as pernas bambas. Você que mente pra mim e me faz acreditar. Você que é mais que bem vindo, vem logo, pode entrar.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Ponto cego

Sinto que estou morrendo e não peço que venham me ver. Apago o cigarro na língua e não peço que venham me ver. Corto as pontas dos dedos e não peço que venham me ver. De amor assim já transbordei faz uma cara. Não encontro a saída e ainda assim prefiro ficar vagando. Meu silêncio e meu não serão sonoros e não serão ao mesmo tempo. Não farei joguetes e nem inventarei um falso desejo, o meu silêncio é sempre mais forte do que qualquer decisão. Nego para afirmar depois e silêncio por não ter nada além do vazio. Nem sim, nem não. Nem começo, nem fim. Nulo, inexistente, invisível, não é que não sinta. Não é que negue para depois dizer sim. Apenas não digo, não represento. E aquilo que calo em mim é dor não compartilhada. É amor despedaçado provocador de inércia. 

Onde não digo. Onde não vejo. Onde posso colidir.Onde caio e não volto igual.
Silêncio que só pode vir depois de esgotar minhas palavras.

Sangue seco no buraco do silêncio.

Em câmera lenta a faca gira e aponta para o chão, meu pé fica no meio do caminho e sangra por isso. Furo de ponta de faca. Alguém tenta ajudar e quebra uma caneca de café cheia de água. A caneca quebra no meio e mais alguns caquinhos. Meu pé dói, sangra e lateja. Talvez porque você não esteja tudo lateja. Quem tenta ajudar se desespera e para mim tudo derrete. Enquanto tudo parece derreter.  Caminho e deixo rastro de sangue para pegar qualquer coisa e fingir que melhora mais rápido se limpar o ferimento. Sujo o chão e o buraco arde insistentemente. Penso nas possibilidades de amanhã e no que pode acontecer enquanto espero mais uma semana. Estamos em 2013 e apesar de estar cansada de saber que os remédios não fazem mais as feridas arderem eu temo antes de passar aquela aguinha que borbulha com sangue, depois a pazinha transparente. Tudo bem. Finalmente parece doer pouco. Mesmo sem dormir não tenho sono e um orquidário me  espera, mesmo sem fumar ainda pigarro e cuspo qualquer coisa verde verde verde. Não parou de sangrar e me faz pensar em como eu seria menos desprezível se me esforçasse para isso. Pensar nisso me faz rir com muita satisfação pois juro que vai ser diferente da próxima vez. O telefone chama e não era para mim. O buraco parou de sangrar, mas o sangue seco que está envolta fez um desenho engraçado perto do mindinho. O barulho me incomoda, a saudade dói, a dúvida é uma praga. O amor tem estranhos contornos, entornos, retornos. Deixo sangrar e secar pois não arde e não dói. Está aqui, bem furado, esfregando no meus olhos que o amor não tem magia, não tem mentira, tem contato e saudade.

ps1: odeio pessoas que fazem barulho para chamar atenção para seu mal humor. gente que bate porta, lava louça e não segura as panelas, gente que resmunga baixinho, gente que bate com as coisas na mesa e pisa forte no chão.

ps2: no silêncio também há vida.

ps3: ninguém fala por falar, mas as vezes falam demais.