quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Minha filha tem apenas 8 anos e me fez uma pergunta. Eu não soube responder. Agora penso em algumas coisas.

Como amar os meninos?

Tem que amar o jeito de sentar.
O jeito de cruzar as pernas.
O sorriso curto
e o beijo no canto da boca.
A maneira como eles coçam a barba.
Aqueles que pegam no violão.
O olhar intenso.
O carinho roubado.
Tem que amar a força com que ele te deseja
e mais ainda a força com que você deseja ele.
Tem que amar o quanto ele te respeita
e mais ainda o quanto vocês são livres juntos.
Tem que amar o jeito de dar bom dia
O sorriso maroto da manhã
dado ao recerber beijinhos nas costas.
O não caber em si do menino que quer ser pai.
Tem que amar o poder ir
Tem que amar o poder ficar
Tem que amar o poder voltar

Minha filha, tem um monte de coisa pra amar nos meninos.
Mas ainda assim, se você preferir, a mamãe pode pensar como amar as meninas e te deixar ainda mais feliz.

Fosse você metade do rei que pensa ser
Eu ainda te amaria.
embriagado ou não
fique quieto, rapaz.
e repita esse beijo eternamente.
o dia foi forte.
você parecia forte.
seu olhar atravessava minhas palavras.
suas perguntas esquentavam a sala.

o abraço foi forte.
você parecia tão atravessado quanto eu.
talvez atravessado por mim
e por mais tantas outras.
pouco importa.
 representaria com você
a mais bela noite de amor.

o não foi forte.
nós somos fortes.
 o tempo vai se encarregar de abrir as cortinas
e de apagar a luz.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

"o amor veio e me levou com ele"

Encantamento sem fim. Olhos que piscavam apenas para não ressecarem e acabarem por partir. Quebrar eu até poderia permitir. Partir não. Partir doía tanto que não se dizia nem mesmo adeus ao telefone. Sinto que foi e que é o princípio mais bonito que pude ter. O amor para mim não é mais um evento, um relacionamento, um momento, ele, ela ou eu. O amor é esse avalanche de chances que eu tento agarrar na vida. O amor é o que faço com cada poeirinha que consigo reter por alguns segundos nas minhas mãos. É a poeirinha que faz cócega no canto do lábio ou que arranha a retina e faz chorar. Avanlanche que te assola e depois te ensina a nadar. Nadar no seco, na neve, no mar. Areia, neve, ou água. Se chegar assolando, cega e confude a gente. E o pior que andar confuso no escuro é uma delícia. Ter caminhado assim faz parte da aventura. E se retomo tudo isso não sofro mais. Agora sim eu amo mais. 
Fica pronto toda vez que releio
Monto um novo arranjo
Sinto o vai e vem dentro do peito
A flor murcha e sem cor não me incomoda

A falta de ar é também a falta de rumo
Na impossibilidade de dizer
tento respirar mais do que o padrão
Não há padrão
Não há encontro

Reescrevo e cada vez acerto um novo tom
Toco e troco de alma
Troco e toco de corpo
Reorganizo meu sistema respiratório
Penetro pelas curvas intemináveis do meu relógio
que não cessa de titaquear

Que alívio em te ver
Que alívio em escrever
Que alívio em perder
Que alívio em pensar na roupa
e ela caber.

Pego mais um gota de ar
Falta mais uma
Releio tudo que escrevi
Calar me dói e me conforta
Não saber não me assuta mais
Me move.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Eclipse Oculto

Meus peitos ganharam
uma beleza cheia de liberdade
Vivíamos uma década de 80
que queria nos levar 
Da janela podíamos ver tudo
a cidade fervia e esperava por nós

Nossas festas
Nossa ressaca
Nosso tempo
Nosso teatro
E nosso amor não deu certo

Muitas brigas que queriam paz
Uma guerra de dois dançarinos
A saudade só vem depois
A verdade é feita de fibras
A verdade é espiral

Nosso encontro
Nossos corpos
Nossos porres
Nossa paciência com o mundo
O que será?

domingo, 18 de agosto de 2013

O poeta passarinho


Algo existe em Minas Gerais. 
Está gravado nas paredes, 
impregnado no vão do chão de pedras, 
pairando no ar. 
Em Minas, 
algo diferente aparece no canto dos animais.

Neste segundo
há um passarinho que canta
em meus ouvidos. 
Está tão pertinho. 
Ai se Drummond ainda andasse de ônibus por aí. 
Ai se a família se recriasse no amor. 
Ai se a religião fosse abandonada como fardo.

Meus dedos escorregam pelo teclado. 
Meus olhos correm pelo papel. 
Meu ouvido escuta uma voz bonita, 
de homem bonito, 
de homem querido, 
recitando um pouco do livro. 
Meus olhos descansam 
e meus pés encontram 
um pouquinho de calor. 

Caminho pronta. 
Volto sem saber. 
Caminho completa. 
Volto sem saber. 
Caminho com outros. 
Volto sem ninguém.

A poesia nunca será banal.
Meu amor nunca se encerra. 
Não há mais tempo para tentar dizer. 
Há tempo para ir até Minas, 
há tempo para penetrar surdamente no reino das palavras. 

Rio de Janeiro que não vivi. 
Minas Gerais que conserva no vento 
um passado que me atrai. 
Drummond que eu não sabia ler.
Minhas rimas pobres.
Meu coração incompleto.
Óculos são roubados.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

mulher

o que aconteceu com você, minha pequena?
escuto desafinado e vejo sua foto
minha querida, que nunca foi minha
tão bela que jamais seria de ninguém.
Remédios a bela.

você mente
sua pele reflete.
você beija
sua boca conserta o tempo.
atração e amor
tão diferente e tão juntos.

o mar reflete nosso passado
você me encanta
escuto uma música bem baixinha
é seu violão ainda novo
é você aprendendo a cantar.

o que aconteceu com você, minha pequena?
corpo lindo
sapato lindo
te amo mesmo sem nunca ter tido nada
nem fio
nem tempo
nem sorriso
nem desprezo

pelo menos sempre que me encontra
me aperta
pelo menos sempre que me aperta
me aperta
o peito.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

3

Tem gente querendo furar o muro.
Gente fazendo curva no caminho.
Talvez não durma mais.
E precise voltar pra casa.
Sem motivo me desminto.
E sem pensar me encolho.

Encolho meu peito para abri-lo.
Arrasto um pé depois do outro.
Sinto ciúmes para ver se esqueço do amor.
Viro de lado, recuo e toco em você.

Invento um outro que não quero.
Aceito o abandono e todas as minhas histórias
Assim, quem sabe, eu vá embora antes
Eu erre antes
E como sempre
deixe de de amar para continuar amando.

De repente alguém me embola
E de repente alguém me enrola
Talvez eu queira muito ir
E talvez seja impossível
Sem motivo te olho seguidas vezes
E sem motivo algum sei exatamente o que queria te dizer.

A vontade de falar vem da incapacidade de poder dizer.
Não sei o que se passa.
Não sou capaz de repetir certeza alguma.
 Tremo, abaixo o tom, sinto uma bagunça.
Desespero sem motivo,
problemas inventados,
caminhos impossíveis.
Não me importo mais
e sei o que dizer.
No entanto, não digo.

sábado, 3 de agosto de 2013

sobre a tristeza de hoje
sobre os amores possíveis
sobre os amores que se sobrepõem
sobre não saber sobrepor
sobre.
sobre sobrepor

cabe mais joana nos teus dias
do que joão nos meus
cabe falar de amor
e escutar a lagoa movimentar

os dias se alternam
entre esperança e mentira
os dias se desfazem
dias  e mais os dias
os dias me desmostam
com dificuldade
me remonto

me aperta o peito
me provoca sono
me provoca
me oca
faz alarde

já vou por não caber ficar
já vou por não caber aqui
já vou por ter que ir
já sinto tudo voltar

vomito.
me calo.
me enrolo.
me vou,
meu amor.