terça-feira, 28 de junho de 2011

Amanheceu

Cobertos por algo que tapava o céu, o colchão feito chão gelado, um frio que queima feito brasa. De repente um carinho daqueles feito com a ponta do nariz resfriado, um envolvimento de pernas que de tão enroscadas se faziam mil. O cheiro que se concentrava no ar não era de amor, nem de amizade, nem de certeza. Era um cheiro bom de encontro, que se desfazia na velocidade em que se construía. Como um casaco de lã que nunca cria forma enquanto a agulhas não param de trabalhar. A velocidade do mundo além deles é rápida, parece que crianças correm por um campo extenso, por um campo que faz eco.
Uma porta que nunca se abre, a brasa agora é de prazer. O que queima não é mais o colchão, as crianças fazem silêncio, o campo pega fogo sem fazer fumaça. Só o que se sente é o calor. Algo explode lá fora e algo implode lá dentro. O silêncio agora é eterno. Há uma voz que pede: não se vá. Repete incontáveis vezes, não se vá. A partir da terceira vez seu pedido não tem voz, pode-se apenas ler em seus lábios: n-ã-o s-e v-á. Repete isso sem perceber ele mesmo não está mais ali. A terra poderia sugá-los, o céu derreter o que impede seu azul de se fazer pintura para os olhos do casal. O tempo congela um beijo que não poderia ter sido diferente. O relógio acelera a separação. Não se vá.

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