quarta-feira, 1 de maio de 2013

Sangue seco no buraco do silêncio.

Em câmera lenta a faca gira e aponta para o chão, meu pé fica no meio do caminho e sangra por isso. Furo de ponta de faca. Alguém tenta ajudar e quebra uma caneca de café cheia de água. A caneca quebra no meio e mais alguns caquinhos. Meu pé dói, sangra e lateja. Talvez porque você não esteja tudo lateja. Quem tenta ajudar se desespera e para mim tudo derrete. Enquanto tudo parece derreter.  Caminho e deixo rastro de sangue para pegar qualquer coisa e fingir que melhora mais rápido se limpar o ferimento. Sujo o chão e o buraco arde insistentemente. Penso nas possibilidades de amanhã e no que pode acontecer enquanto espero mais uma semana. Estamos em 2013 e apesar de estar cansada de saber que os remédios não fazem mais as feridas arderem eu temo antes de passar aquela aguinha que borbulha com sangue, depois a pazinha transparente. Tudo bem. Finalmente parece doer pouco. Mesmo sem dormir não tenho sono e um orquidário me  espera, mesmo sem fumar ainda pigarro e cuspo qualquer coisa verde verde verde. Não parou de sangrar e me faz pensar em como eu seria menos desprezível se me esforçasse para isso. Pensar nisso me faz rir com muita satisfação pois juro que vai ser diferente da próxima vez. O telefone chama e não era para mim. O buraco parou de sangrar, mas o sangue seco que está envolta fez um desenho engraçado perto do mindinho. O barulho me incomoda, a saudade dói, a dúvida é uma praga. O amor tem estranhos contornos, entornos, retornos. Deixo sangrar e secar pois não arde e não dói. Está aqui, bem furado, esfregando no meus olhos que o amor não tem magia, não tem mentira, tem contato e saudade.

ps1: odeio pessoas que fazem barulho para chamar atenção para seu mal humor. gente que bate porta, lava louça e não segura as panelas, gente que resmunga baixinho, gente que bate com as coisas na mesa e pisa forte no chão.

ps2: no silêncio também há vida.

ps3: ninguém fala por falar, mas as vezes falam demais.

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