segunda-feira, 25 de abril de 2011

Ludicidades, neologismos, solidão e unidade

Outro dia estava lembrando umas brincadeiras que fazia quando era pequena, brincava de ser mãe, de cozinhar, brincava de sereia e de professora. Nunca quis ser rainha de nada, e sempre me virei muito bem sozinha. Mãe solteira, chef cozinha independente, sereia que ultrapassa uma "passagem" para o mundo humano que eu mesma fazia batendo com força as pernas na água, professora de cadeira vazias. Para os outros eu gostava de me exibir dançando. O curioso é que não sei cozinhar, não vou para o fundo do mar e me recuso a inventar um jeito de proibir um filho seja lá do que for. E a dança? Haha, isso nem comento. Só que me lembrei dessas brincadeiras não pára descobrir se ainda sou o que era quando criança lembrei por lembrar como eu era feliz sozinha, como eu não tinha medo de me perder no meu mundo, na minha cabeça, nas minhas idéias, na imaginação. Hoje tenho pavor.

(Também temo da sensação dolorosa de não acreditar em ninguém, de não conhecer ninguém, não entender ninguém. Isso é ser sozinho; pensar que os outros são meras continuações de mim? Isso é solidão, pensando assim existo sozinha. Só não quero me perder no assunto. Deixe-me continuar.)

Nas minhas brincadeiras nunca fui rainha, nem nunca quis ser. Nunca me vestia para o príncipe encantado, nem pensava nisso. Esperei crescer para me candidatar, esperei crescer para não chegar nem no primeiro degrau, nunca me aproximei do trono. Depois de grande a gente resolve brincar de sofrer, e sofre como se tudo fosse tão real. Sentimos dores que nos grudam na vida, que fazem com que nossas brincadeiras infantis pareçam sonhos, mentiras, um monte debobagens. Bobagem é viver e achar que isso que é o real. Bobagem é esquecer-se do teatro e fingir que somos e não que encenamos. Sem ensaio, sem roteiro, tal como minhas brincadeiras de criança.

Deixo aqui uma saudade de algo que nunca se separa de mim, eu mesma. A menina criança não morreu, nem ficou pra trás, nem mudou juntos com minhas formas. A criança não fica em algum lugar do passado, nem nas fotos, nem nas lembranças. Eu sou a mesma que dava aulas para cadeiras vazias, a mesma que sabia ser a melhor mãe do mundo? Sou e não consigo aceitar, insisto e perder-me por aí, em amadurecer qualquer coisa que não se amadurece. Sexo, dinheiro, profissão, e a morte no final, sempre no final.

Amanhã quando acordar vou brincar de alguma coisa, dessa vez sem pensar que pensam que minto em ser essa que sou.

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