sexta-feira, 22 de abril de 2011

O circo

Sim, ela pode voar. E eu também. Aprendemos cedinho, nos conhecemos cedo também. Nosso vôo dura poucos segundos, no entanto é tempo eterno, suficiente. Desde pequenos andando por esse mundão, eu nasci para palhaço e ela para voar, eu segui meus passos naturais e os dela também. Seguia seus passos morrendo de medo, apavorado... mas era tão bom ficar junto, quando caímos naquela rede enorme eu podia sentir o peso de tudo que vivia dentro daquela lona. Lona que faz com estejamos sempre em casa, mesmo que cada mês em uma cidade diferente. Cidade grande, cidade quente, cidade pequena, cidade que tem nome por acaso, cidade fantasma, cidade linda. Sim, eu poderia viver em uma cidade só, mas para que? Eu tenho uma casa e vivo em todas as cidades que eu quiser. Se um dia eu cansar, eu morro.
Preciso voltar a ela, minha sutileza, minha passarinha, minha fantasia de palhaço. Ora pinto algumas lágrimas, ora pinto o sorriso. Sempre tenho o mesmo nome, parece até que o nome que minha mãe me deu é apelido e o de palhaço é meu. Um palhaço trapezista, que tenta falar da sua mulher e não pára de falar de si. Ela é minha mulher por condição, sei que se pudesse me abandonar sem abandonar o circo, o faria. Ai, como eu amo essa picadeiro. Todo mundo pensa que é o lugar da alegria, mas digo, nem sempre é assim. Eu preciso chorar pra dentro, chorar sorrindo. Palhaço não chora?
Voa para mim minha pequena dos cabelos negros. Não solta da mão dos outros trapezistas, mas não se apaixone. Morro de ciúmes, perco o tempo da piada. Um dia vou voar melhor do dou cambalhotas. Um dia eu seguro seu voo diante do respeitável público, um dia .

Um comentário:

  1. "parece até que o nome que minha mãe me deu é apelido e o de palhaço é meu."

    excelente.

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