domingo, 10 de março de 2013

Tautologia feminina

Não gosto muito dessa coisa de tipo. "Não faz meu tipo" ou "não tenho tipo" , são frases impossíveis e na medida em que se necessariamente se anulam deixam todos nós mergulhados num vazio incrível.  Façamos o seguinte: aceitar o vazio e abraçar um tipo de mulher. Falo daquele tipo que enrosca as almas, não compete com outras e treme diante de um imbecil qualquer. Forte demais para ser homem se torna imediatamente mulher. Cava grandes buracos no jardim para fazer com que as flores que cultiva tenham raízes grandes o suficiente para se fixar e ao mesmo tempo se espalhar para além dos limites da cerca. Suas flores crescem firmes e livres, coloridas e venenosas, perfumam e matam. Tem aqueles que se atrevem a entrar no jardim e aqueles que são flores. Esse tipo de mulher prefere aqueles que são flores, mas não é capaz de impedir a entrada daqueles que simplesmente invadem, roubam, pisam na flores. Ou daqueles que plantam mais flores. Ou daqueles que querem um pouco de tudo e acabam por não fazer nada.
Esse tipo de mulher é ao mesmo tempo, muito mais que jardinagem. Transita pelos cantos da cidade, faz estrago no seu próprio coração e acha que conhaque cura. Volta e meia alguém volta, arrependido, com o rabo enroscado. Ela é do tipo que deixa saudades. Que mente. Que simula. Que atua. Que representa a boa moça. No entanto, nem mesmo que a vida fosse um longa ópera o fim poderia ser evitado: a cortina fecha e  a máscara dela cai . A boa moça derrete. Sobra apenas figurino.
Se você não tem tipo, ou se ela não faz seu tipo, lembre-se: essas frases se anulam e fazem esse tipo de mulher surgir e desaparecer. Surgir e desaparecer. Surgir e desaparecer. Num movimento inquietante para ela e para os outros.

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