segunda-feira, 25 de março de 2013

Vento

Será que toda vez que ele se posiciona na frente da janela e pensa na vida, consegue fazer os pensamentos irem embora com o vento? Mesmo sem essa certeza é ir para janela o que faz sempre que tudo pesa demais para ser pensado na cama. A profissão que escolheu, o amor da sua vida ter aparecido justamente na sua vida, o cigarro que não larga e não quer largar, a barriguinha fora dos padrões, as certezas depositadas no futuro incerto. Ele sente o peito apertar e a dor sair no cantarolar de uma música com letra forte. Os pensamentos na janela atravessam as verdades pessoais e embarcam em suas escolhas políticas, suas decisões de todo dia, sua ética estudada e revista, e aquela coisa que ele não sabe como surgiu, quem escolheu ou quem moldou. Eles apenas é assim. Ele sofre com as dores e doenças que se espalham pelo mundo, ele sofre com do movimentos perversos do capital, ele sofre com a obrigação de se calar toda vez que se sente impotente ou em dúvida. Sempre que vai pra janela sabe que a situação tá preta. Nele e no mundo. O que pra ele é uma coisa só. Não sabe mais o que fazer, sai da janela e vai para o quarto. Dorme e acorda por obrigação. Viveria na janela se não sentisse um impulso transformador em vários momentos. Venta na janela, venta no trabalho, venta na viagem que não fez, venta nas certezas do amor, venta, venta, venta. venta. Ele não consegue decidir se o vento entorta ou conserta. Se o vento leva ou se o vento traz. Bom seria saber. Bom seria se o vento transformasse. Se o vento soubesse, se janela fechasse, se ele pudesse viver outra vez, outra vez, outra vez.

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