terça-feira, 9 de abril de 2013

Pequeno relato de uma grande vivência

Eles corriam faceiros sem se dar conta da diferença na cor de nossas peles. Subiam em árvores, caçavam caranguejos e faziam desenhos com lápis de cor. Pés no chão de barro, mergulho no mangue sujo, ritual religioso e cachimbo na boca. O que me disseram é que lá eles não mentem. Guarani até os cinco anos. Verdade no peito para sempre. Carinhosos não reconheciam em nós inimigos. Que talvez sejamos, ou tenhamos sido. O que do meu sangue é mais europeu do que índio?
Como são lindas as crianças de lá. O recorte em suas roupas industrializadas dando ar de indiozinho. A cor marrom brilhosa de suas peles. Os cabelo que escorre e pesa. O carinho gratuito. Não somos inimigos. Não tenho 24 anos, tenho mais de 500. E ainda assim não somos inimigos.
Crianças com cachimbo. Mães de quatorze anos. Crianças com pés no chão. Ritual noturno. Ausência de luz. Pegamos o barco, atravessamos pro outro lado. Comemos peixe, dormimos no hotel, brigamos, amamos, matamos as saudades, conhecemos gente nova e seguimos a vida. Não sei se somos mais índios ou mais europeus. Não sei se dá pra escolher. Não sei se quero escolher. Se devo escolher. Há um lugar onde não há motivo para mentir, ou aquilo que é mentira não se qualifica como tal.
Não povo não civilizado. Há povos diferentes.


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